terça-feira, 12 de julho de 2011

"Somos mais Gaúchos que Baianos?", por Paulo Roberto Baqueiro Brandão

O orgulho pela sua história é um dos importantes traços identitários de uma sociedade. Mas este orgulho não é inato. Ao contrário, resulta de um processo de construção coletiva que envolve, entre outras coisas, a lembrança dos fatos históricos importantes para o grupo por meio das comemorações anuais, o que, em geral, se dá através dos feriados e dos festejos públicos. Isto contribui para conectar indivíduos, que passam a perceber traços comuns, e para a coletividade que daí se constitui.

No caminho inverso, quando se quer desconstruir determinados laços identitários, tal processo passa necessariamente pela ação deliberada de um grupo visando relegar ao esquecimento alguns dos fatos importantes da história de uma sociedade. Assim, ao não comemorar um feito pretérito, abandona-se o passado, o que incide no orgulho da sociedade e, em última instância, no próprio sentido de coletividade.

No caso de Barreiras, dois fatos podem ser exemplares para entendermos como se dá a (des)construção de laços identitários através da História: os festejos da Independência da Bahia e da Semana Farroupilha.

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A Independência da Bahia é considerada a data magna do estado. Comemorado no dia 2 de Julho, o festejo representa a consolidação da autodeterminação do Brasil, já que o propalado “Grito do Ipiranga” parece não ter chegado aos ouvidos das elites portuguesas que viviam no Nordeste. Uma história constituída por fatos de sangue e sofrimento, de luta e dor, mas que serviram para garantir a unidade nacional.

Em Barreiras, embora o feriado seja respeitado, afinal as empresas e repartições públicas não funcionam na data citada, não há qualquer tipo de festejo ou celebração à data magna estadual. Nenhuma lembrança sequer. Não há desfile cívico, bandas marciais ou hasteamento das nossas bandeiras oficiais, algo tão comum em outros municípios baianos.

Esta falta de interesse pela Independência da Bahia é até compreensível, já que, ao que tudo indica, Barreiras sequer existia naquele ano de 1823. Outros dirão ainda (e com alguma dose de razão) que as repercussões das lutas pela autodeterminação demoraram a chegar no Oeste Baiano e que, por isso mesmo, parecem mais legítimas as comemorações nos municípios do lado de lá do Rio São Francisco do que neste nosso vasto cerrado.

É preciso considerar, porém, que, se hoje todos nós, baianos do Leste e do Oeste, podemos nos identificar como brasileiros, isto é possível também por causa dos muitos índios, negros e brancos que tombaram sob a bandeira da liberdade. Devemos a eles, portanto, todas as homenagens, honrarias e lembranças.

A quem interessa esquecer... ?

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A Semana Farroupilha é o período máximo de expressão do orgulho gaúcho. Celebrados entre os dias 14 e 20 de setembro, os festejos e desfiles homenageiam os líderes da revolução mais duradoura do Brasil, que se estendeu de 1835 a 1845, e tinha como objetivo transformar a então província imperial de São Pedro do Rio Grande do Sul em uma república. O projeto político era, portanto, de caráter separatista.

Em sessão ordinária ocorrida no dia 18 de maio de 2010, a Câmara de Vereadores de Barreiras aprovou, por unanimidade, o projeto de lei n. 003/2010, de autoria do vereador Geovani Souza, no qual se propunha a oficialização da data magna dos gaúchos no calendário cívico do município.

Em outras palavras, graças à força da migração sulista, fatos históricos que ocorreram em terras gaúchas e que tiveram repercussões decisivas apenas naquele estado passarão a ser guardados, comemorados e festejados por todos os moradores de Barreiras, tenham eles nascido no Sul do país, no próprio município, no Ceará ou em qualquer outra localidade de onde afluíram os muitos indivíduos que constituem a população local.

A quem interessa lembrar... ?

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O propósito deste escrito não é debater o nível de importância desta ou daquela data comemorativa ou a primazia de uma sobre a outra como elemento da construção da identidade barreirense. Mas é fato que uma delas vem sendo valorizada por setores específicos da sociedade local em detrimento da outra. Isto impõe uma reflexão.

O discurso simplista e ufanista da distância geográfica e identitária que nos separa da Bahia que tem cara, cor e cheiro de Recôncavo não pode ser evocado como reflexo do desinteresse barreirense pelo 2 de Julho. Se assim o fosse, tal ideologia teria ainda mais validade como contra-argumentação a um suposto interesse da sociedade local pela História gaúcha.

A (des)construção deliberada da História já foi evocada como elemento fundamental da implantação de ideologias falaciosas e que contribuíram apenas para gerar atraso nos corações e mentes de quem disseminou e absorveu tais ideias. É fundamental, portanto, que atos desse tipo não ganhem força, seja aqui ou em qualquer outro lugar.

por Paulo Baqueiro

3 comentários:

  1. Meu medo é termos que construir um centro de tradições nordestinas aqui em Barreiras.

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  2. Não precisa ter esse medo, pois os separatistas já disseram que querem o Estado do São Francisco localizado no Centro-Oeste. Imagina, gente querendo se livrar de ser nordestino e você vem com essa história de centro de tradições...

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  3. é de se esperar esse projeto de lei absurda, pois no site da prfeitura da cidade mãe já uma história "cara de pau" que evoca do século XIX uma "memória sulista", por assim dizer pra Barreiras... no site oficial da prefeitura, segue link: http://www.barreiras.ba.gov.br/site/index.html segue essa passagem quanto às origens de Barreiras: " (...) A partir de 1870, o então povoado de “São João das Barreiras” recebeu um grande número de imigrantes vindos das regiões sul e sudeste do país, que chegaram impulsionados pelo extrativismo e exportação da borracha da mangabeira, o que determinou um rápido crescimento econômico do lugarejo.(...)". Revirei o site da cidade mãe de ponta cabeça pra vê se acho as benditas referências/fontes que foi retirado essa pérola , e nada encontrei, então peço se alguém souber, que por favor me passe essas fontes!!! até as fontes aparecerem, fico na opnião de que manipular fatos históricos é extremamente nocivo/antiético/oportunista que visa o beneficio de defensores falaciosos, até que se prove o contrário a atual prefeitura de Barreiras estado da Bahia.

    Fabiane Marques

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