Nas últimas semanas, no lastro da votação para aprovação de abertura de plebiscito para criação dos Estados de Tapajós e dos Carajás, no Pará, os debates em torno da criação do Estado do São Francisco voltaram à cena de forma acalorada, especialmente, na elite política e também econômica regional. Ao mesmo tempo em que um grupo político da região liberado pelo deputado Hebert Barbosa viajou nesse último mês para o Estado do Tocantins para se reunir com o governador Siqueira Campos e “se informar” ou ganhar apoio político na criação do novo estado no Oeste da Bahia, outro grupo se articulava para, semanas depois, lançar, alterando pela primeira vez o projeto de emancipação política do Oeste Baiano do deputado Gonzaga Patriota que fora escrito no ano de 1998 e que agora, na sua “nova roupagem”, passa a ter como idealizador, além do deputado mencionado, o deputado federal Oziel de Oliveira.
Em meio a mobilizações em Barreiras realizadas pelo grupo de Hebert Barbosa que se reuniu com a elite econômica, principalmente, os comerciantes, outro grupo fazia o maior estardalhaço tornando, a fala do deputado Oziel de Oliveira, transmitida ao vivo da TV Câmara “direito” para a parte da população barreirense, no dia “D” da defesa de criação do Estado do Rio São Francisco, com a reestruturação do projeto. Mas, para além da elite econômica convidada para fazer parte da “festa” e de meia dúzia de populares ligados ao poder público, o grosso da população, como na maioria das vezes, só foi convidada para ler os jornais ou ver, quando viram, o discurso em defesa do novo estado na TV.
Lendo o “novo” discurso em defesa da criação do Estado, vemos os velhos argumentos sendo colocados a favor do desmembramento: a pujança econômica desenvolvida na região nas últimas décadas, o crescimento populacional e o descaso do poder público do Estado da Bahia são os principais. O que chama atenção, por outro lado, o lado menos falado, é que não se tem nenhuma menção às efetivas melhorias das condições de vida das pessoas que o projeto de criação trará, e como trará? O que se tem, e muito, passa pelo forte desenvolvimento trazido pelo agronegócio, pelas grandes empresas agroindustriais – que geram emprego, é claro, não podemos esquecer – mas com que qualidade de emprego, pois o desenvolvimento que queremos, para com e além do desenvolvimento econômico, é o desenvolvimento humano, aquele que melhora as condições de vida das pessoas: na educação, na saúde, no transporte, que torna o dia-a-dia do trabalhador menos sofrido. Mas parece utopia, sonho, devaneio pensar assim, não é?
Na “balada” da agitação por parte das elites políticas e econômicas da região, alguns meios de comunicação afirmavam, “pregavam” que a população “clama(va) pela criação do Estado do Rio São Francisco”. Mas, será que é assim mesmo? Parece, vendo as notícias de alguns discursos e de alguns meios de comunicação, que existe uma “colonização da memória” se instalando, difundida por esses grupos políticos e econômicos, pois tudo só passará a “prestar”, a funcionar, a ter quando o Oeste Baiano se tornar independente. No discurso do “pior não fica”, recebemos de “goela a baixo” o projeto de criação de um novo estado, pronto, acabado, como se a população, maior interessada na melhoria de suas vidas, não fosse importante ser consultada para as reuniões, para ter poder de participação popular, para fazer, efetivamente, e não somente – se um dia sair um plebiscito – para votar a favor ou contra, na construção de uma nova unidade da federação.
Por isso, gostaríamos de ser convidados também para a “festa” da construção do novo estado, para também “comer o bolo”, e não apenas, para depois de realizado o projeto, limparmos o salão. Parece-nos que nesse entremeio de reuniões e organizações de grupos que buscam mobilizar contingentes populacionais, o que está verdadeiramente em jogo, é a disputa pelo exercício do poder, pelo poder político regional da principal cidade da região. Eis o que provoca a próxima campanha política: “surgem vários pais para uma criança que ainda não nasceu”.
por Marcos Mondardo
Morador de Barreiras, Geógrafo e
professor do Curso de Geografia ICADS/UFBA.
A edição 994, de 15/06/2011, da Revista Exame, afirma que Barreiras teve crescimento de 109% do PIB, relativo 2002/2007, e crescimento de IDM- indice de desenvolvimento municipal de 15%, com pouca melhoria de desenvolvimento humano. Lógico, quem sairá lucrando com esta emancipação? O povo ou os politicos??? Não seja o otario que eles querem!!!
ResponderExcluirProfessor Marcos,
ResponderExcluirO texto traz uma reflexão muito importante e que deveria ser estendida a toda população que, realmente, tem recebido a ideia verticalmente, sem analisar os dados e as possibilidades reais.
Logicamente que essa elite política e econômica possui a seu serviço diversos veículos de comunicação, que fazem muito bem seu papel de massificar a criação do novo estado como "salvação" da situação caótica em que vivemos. E desenhar melhorias na miséria total, qualquer que seja, ilude de que "não pode ficar pior" e sempre pode!
Que tal a organização de debates nos municípios? Que tal sistematizar e distribuir a à população os diversos textos e estudos que tem sido feitos por professores e estudantes do ICADS?
Fica a proposta e a contribuição para efetivá-la! ;)
É isso que precisamos, Paula e Paulo. O problema é que os interessados na separação do estado tem grande voz na mídia, enquanto as nossas discussões estão presas na internet e nas paredes das academias. Deve-se fazer discussões sobre isso nas escolas, nas comunidades, com as mães e os pais de estudantes, com trabalhadores (principalmente os municipais). Mas como faremos isso?
ResponderExcluirCorrigindo, Paulo e Marcos.
ResponderExcluirconcordando com a janara... o povo aí do icads poderia começar um movimento esclarecendo a população acerca das implicações de se criar o estado do são francisco... organizar uma equipe e ir até os bairros, escolas e tbm na própria universidade para promover um debate horizontal e transparente, e tbm convidar os políticos que encabeçam o projeto de desmembramento para participar do debate... a sociedade não é apenas a elite... vamo lá pesquisadores, professores, estudantes, vamos organizar um projeto que discuta a criação do estado do são francisco, a ufba encabeçando as ações penso que será totalmente viável... não podemos deixar o povo votar no escuro e deixar as discussões restrita só à academia.
ResponderExcluirFabiane Marques graduanda história FAED/UDESC
Concordo com boa parte das colocações, porém observo que o movimento não pode ficar restrito às discussões acadêmicas na UFBA, deve expandir-se para as demais IES e também para as escolas, associações de bairros e sociedade civil em geral. Igualmente não se pode perder de vista que a direção do movimento iniciado recentemente envolve entidades da sociedade civil tais como OAB, CDL, Fundações, Associações Populares, etc., que revelam uma certa participação popular. Ainda que se entenda o movimento como iniciado pela elite, não devemos ser puristas ao ponto de nos recusarmos a somar quando todas as iniciativas são positivas para ampliarmos o debate sobre o tema.
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