terça-feira, 17 de abril de 2012

"A Arte de Pongar(*) na Realização Alheia, em Três Atos", por Paulo Baqueiro

1o Ato
Março de 2010. As chuvas intensas que assolam Barreiras tornam impossível o tráfego de veículos na Estrada da Prainha, uma via não pavimentada que, além de ligar a sede municipal a algumas vilas, serve como acesso principal para o Campus da UFBA. As águas, que caem com intensidade há cerca de um mês e meio, transformam o caminho em um atoleiro sem fim, o que obriga os condutores de carros, ônibus e motocicletas a transitarem sem a menor segurança. A velha ponte, surrada pela torrente que se forma com a cheia do Rio de Ondas, range e ameaça ceder à ação do tempo e da incompetência administrativa de quem deveria mantê-la plenamente trafegável.

Inconformados com o descaso da autoridade municipal, que não responde aos constantes apelos por uma solução decente para a via e para a ponte, a comunidade da UFBA resolve protestar com veemência, paralisando as atividades da Instituição e promovendo atos para chamar a atenção da sociedade barreirense para um problema que é de inteira responsabilidade da Prefeitura. Entre as diversas atividades de protesto, uma ganha retumbante repercussão: a grande caminhada de estudantes e servidores da universidade com destino às portas da Prefeitura como forma de pressionar a gestora municipal a tomar uma atitude que permita a retomada da normalidade no Campus da Prainha.

Infelizmente, a mobilização ganha notoriedade não pelo motivo que a deflagrou, mas pelo seu desfecho: ao invés de receber os manifestantes para abrir um canal de diálogo ou até mesmo para vir a público afirmar a incapacidade de realizar as obras de pavimentação da estrada, a Prefeita se omite. Para completar o quadro, de forma absolutamente desnecessária, a polícia é acionada (sabe-se lá por quem) e o que se segue são fatos que lembram os dias sombrios da nada saudosa Ditadura Militar.

2o Ato
Junho de 2010. Após quase três meses de paralisação, um grupo de professores, escolhidos pela comunidade acadêmica como seus representantes legítimos, é recebido em audiência pela cúpula do Governo da Bahia, em busca da solução que não foi viabilizada pela gestão municipal. Após intensas e frutíferas negociações, chega-se, enfim, a uma constatação e a um resultado prático: fica patente que a Prefeitura é incapaz de honrar com a sua responsabilidade, ao tempo em que a Estrada da Prainha é “estadualizada”, permitindo que o Derba (Departamento de Infraestrutura de Transportes da Bahia) assuma os encargos da obra, que contempla o asfaltamento e a construção de uma nova ponte, de concreto e com via dupla.

Assim, ainda que de forma lenta e aos saltos, a empresa vencedora da licitação aberta pela autarquia estadual assume os encargos da obra e a executa ao longo dos meses que seguem. Isto, é imperativo afirmar, sem qualquer participação da Prefeitura Municipal de Barreiras, que, mantendo a atitude omissa que caracterizou o Executivo local neste longo episódio, executou apenas alguns pequenos e insuficientes reparos na velha e debilitada ponte de madeira.

Enquanto isso, as comunidades que dependem da Estrada da Prainha tentam retomar a normalidade da vida, ainda que os pequenos incidentes envolvendo veículos que insistem em trafegar no perigoso trajeto alertem para a nada fácil tarefa de seguir adiante em um quadro de adversidade.

3o Ato
Abril de 2012. Após meses de espera, uma parte das obras da Estrada da Prainha está concluída: a via recebeu asfalto, sinalização horizontal e vertical e, além disso, Barreiras é contemplada com um pequeno trecho de ciclofaixa, gerando a esperança de que esta cidade possa um dia se tornar plenamente amigável ao usuário de bicicleta. A execução definitiva da requalificação da via, porém, é ainda um sonho, pois só ocorrerá com a construção da nova ponte, uma obra que, espera-se, será concluída dentro em breve.

Assim, mesmo que incompleta, a obra será inaugurada com grande pompa e circunstância, contando com a presença de autoridades as mais diversas, entre as quais a representante máxima da municipalidade. Atitude que incomoda, pelo posicionamento omisso que o Governo Municipal assumiu no processo acima narrado, a presença da Prefeita no ato oficial (apesar de legítima, afinal trata-se da chefe do Executivo local), reflete o jogo político de um ano eleitoral que promete ser dos mais conturbados.

O que mais surpreende disto tudo, enfim, nem é o fato da Prefeita descerrar uma placa de inauguração de uma obra que o município não contribuiu em absolutamente nada. Verdadeiramente intrigante é a retórica dos marqueteiros do Governo “Cidade Mãe”, que se apressaram em fazer uso das armas midiáticas com o intuito de induzir a população de Barreiras a crer que a estrada foi asfaltada por que a chefe do Executivo assim o quis, assim o fez. Desta forma, não sendo verdadeira a narração contida na peça publicitária veiculada nos intervalos do Jornal Nacional, o que se pode inferir é que a Prefeita “ponga” em uma realização alheia para amealhar ganhos políticos.

Epílogo
A classe política brasileira é pródiga em produzir histórias fantasiosas sobre os seus feitos e realizações. Verdadeiros Pantaleões que são, nossos “representantes” tratam de se livrar das responsabilidades que lhes cabem sempre que há risco de serem taxados de incompetentes ou desonestos com a mesma destreza que assumem para si os bônus de um ato, mesmo que este não tenha se tornado realidade pela obra e graça da sua “canetada”.

Isto torna cada vez mais evidente que a política brasileira (a barreirense incluída) não é feita de sujeitos quem tem a capacidade de propagar os seus próprios feitos, mas daqueles que sabem utilizar das realizações alheias para o seu benefício, o que não deixa de ser uma arte. A arte de saber “pongar”.

(*) De acordo com o Dicionário de Baianês, de autoria de Nivaldo Lariú (1991), pongar significa “Pegar carona; embarcar na idéia de alguém; pegar ônibus ou trem em movimento” [Grifo nosso].

- por Paulo Baqueiro

sexta-feira, 30 de março de 2012

"Temei as 'Divindades' que Descem à Terra", por Paulo Baqueiro

Os astecas formaram uma vasta civilização no centro do México antes da chegada dos europeus na América. Com economia e política baseadas na integração das diversas cidades do Império, atingiram um nível de complexidade que lhes permitiu avançar como uma das mais proeminentes sociedades pré-colombianas. Disso resultou uma acumulação de conhecimentos que fez desse povo uma civilização extremamente sofisticada em termos tecnológicos e culturais, dominando conhecimentos em astronomia, climatologia, medicina e engenharia hidráulica, entre outros. Uma constatação disso é o fato de um dos seus principais centros urbanos, Tenochtitlán, ter sido erguido no meio do majestoso Lago Texcoco e as estruturas criadas na sua origem para “domar” as águas, as chinampas, terem sido aproveitadas pelos espanhóis quando fundaram a Cidade do México, uma das maiores do mundo nos dias atuais, justamente sobre as ruínas da grande capital asteca.

Ocorre, porém, que a despeito dos avançados conhecimentos tecnológicos e da refinada cultura que possuíam, os astecas eram extremamente supersticiosos (algo comum às civilizações da Antiguidade), o que dava vazão às interpretações míticas de toda e qualquer situação ligada à sua ancestralidade, economia, política ou mesmo à vida cotidiana. Muito por conta disso, os astecas eram politeístas, o que resultava na crença em várias divindades ao mesmo tempo, cada uma delas responsável pela manutenção do equilíbrio de certos aspectos da realidade do povo. Entre os deuses da mitologia asteca, o mais venerado era Quetzalcóatl (a Serpente Emplumada ou Pássaro-Serpente), a deidade que controlava as forças da vida, da fartura das matas, do alimento que sustentava o corpo e a alma, sendo, por assim dizer, a representação da bem-aventurança.

Assim, se havia uma crença em um deus tão poderoso e venerado, não poderiam deixar de existir aqueles que eram considerados os seus interlocutores, os comunicadores das massas que levavam pedidos ao grande Quetzalcóatl e traziam, da parte dele, as orientações e, por vezes, as reclamações naqueles momentos em que as suas vontades divinas não eram satisfeitas. Esses eram os sacerdotes, homens revestidos de grande poder e com capacidade de influenciar até as decisões mais estratégicas dos imperadores, pois mesmo os intocáveis soberanos astecas tinham receio da ira dos deuses.

Tais líderes religiosos, pessoas de carne e osso, com interesses e desejos mundanos, acostumados a usarem adornos preciosos e caros e comerem o que havia de mais requintado na gastronomia asteca, eram detentores da capacidade de determinar a vida ou a morte de todo um povo. Esse poder era utilizado de maneira ampla, não só para galgarem posição de destaque em uma sociedade rigidamente hierarquizada, mas também para obterem vantagens pessoais, algo conseguido, na maioria das vezes, através da ameaça de uma “conversa ao pé do ouvido” com a Serpente Emplumada para tratar da desobediência daquele que não lhe contemplasse com o atendimento imediato de um pedido. Contestar um homem desses era, portanto, uma forma de garantir um lugar nada agradável no Mictlan, o inframundo para os astecas.

A crença no sacerdote e na sua posição privilegiada de interlocutor dos deuses parecia ser, para os nobres e para a população em geral, a maneira mais correta de buscar o equilíbrio entre o mundo divino e o mundo terreno. Esses “escolhidos” garantiriam a eternidade do povo asteca, com a clemência do deus emplumado. Porém, a queda do Império Asteca ocorreu justamente pelas mãos de um sacerdote de Quetzalcóatl, ou melhor, pela astúcia de quem o líder religioso presumia ser o grande deus.

Em 1519, Hernán Cortez fincou os pés na costa oriental do México com a incumbência de destruir toda e qualquer resistência ao avanço da Coroa Espanhola no Novo Mundo. Seu desembarque coincidiu com a data que o astecas assinalaram no seu calendário como o momento do retorno de Quetzalcóatl, que, de acordo com a mitologia, estaria em exílio no leste (vindo, portanto, do litoral oriental). Isto, aliado ao fato de Cortez ter cabelo e barbas loiros – confundidos com a plumagem branca do Pássaro-Serpente – e vestir paramentos reluzentes, levaram o sacerdote do Imperador Monctezuma II a crer que o espanhol era a personificação do tão aguardado deus. Pelo poder de influência que detinha junto à corte, foi fácil para o líder religioso convencer o soberano asteca a receber bem o militar vindo de longe, que não encontrou a menor resistência ao se encontrar com os nativos mesoamericanos.

Daí por diante, o que se viu é sobejamente sabido: toda uma rica civilização foi dizimada pela violência e doenças que os ibéricos despejaram sobre uma população atônita com a escabrosa ira que o seu deus mais querido lhe proporcionava. A verdade, porém, era outra: a crença cega de um governante nas palavras de uma pessoa que se dizia escolhida e privilegiada por um deus o levou ao próprio fim, bem como ao sacrifício em massa de milhares que viviam sob a sua soberania, em um episódio apocalíptico no qual política e religião se misturaram da pior maneira possível.

Infelizmente, à História não é dada a importância devida e muitos de nós passamos por cima das lições que os acontecimentos pretéritos nos poderiam legar. Os fatos ocorridos no México central durante o processo de colonização da América pelos espanhóis não são os únicos que, ao longo do tempo, exemplificam o quanto pode ser prejudicial à sociedade o estabelecimento de relações promíscuas entre política e religião. Se antes a devoção acabou sendo utilizada como parte da estratégia de conquistas territoriais, nos dias de hoje, muitos são os que se julgam “escolhidos” e fazem uso inescrupuloso da boa-fé de uma grande parcela da população que orienta a sua vida a partir de crenças e valores religiosos para garantirem suas conquistas eleitorais.

Hoje em dia, grupos cada vez maiores de fiéis religiosos se tornam um nicho amorfo de eleitores que confiam cegamente em seus representantes e estes, quando mal intencionados, mesmo despidos da plumagem e das vestes reluzentes que facilitaram o trabalho genocida de Hernan Cortéz, não se rogam em fazer uso das armas de convencimento que lhes permitem dissimular sua débil capacidade de debater questões políticas utilizando o velho – mas ainda eficaz – discurso da evocação divina. Tenhamos fé, pois, que essas “divindades” que descem à Terra não transformem a nossa cidade em uma nova Tenochtitlán, destruída em sua forma e esplendor pela má interpretação dos sinais que avisam dos perigos que se avizinham.

- por Paulo Baqueiro
(Professor da UFBA)

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

"Nota de Pesar pela Morte do Aluno Eliano Bezerra", por Sandro Ferreira


Assim como aconteceu há cerca de um ano quando o bombeiro Paulo César foi assassinado, muitos estão querendo simplificar a morte cruel do aluno da UFBA Eliano Bezerra, como algo determinado apenas pelas drogas. É incrível como Barreiras tem essa capacidade de jogar tudo pra debaixo do tapete: As centenas de famílias que perderam suas terras pela grilagem, as dezenas de jovens que “desaparecem” em abordagens policiais, as várias famílias que moram embaixo das marquises e que nossa “invisibilidade social” nos impede de ver. Tudo é muito simples por aqui, e todos, inclusive a Universidade, fecham os olhos, e exercitam o esquecimento como forma de viverem “felizes” e em “paz”, nessa cidade “grande e medíocre” que é Barreiras.

Desde ontem, logo após a notícia do desaparecimento, uma pedra de crack já servira de argumento simples pra ignorar a complexidade da existência de uma figura como Eliano, numa cidade como Barreiras. Ele representava muito mais, sabia muito mais... não é à toa que, em cada esquina de Barreiras, ontem tanto se comentava sobre a sua morte.


Hoje já li e ouvi várias vezes frases do tipo “esse povo chato, tudo querem associar a racismo, a homofobia. O problema da nossa sociedade é econômico!”. E o que é o econômico senão um campo onde o cultural, o ideológico e o político transitam?

Precisamos fazer um esforço para entender melhor, cuidadosamente, os melindres, as tramas do “ser humano”. Como o racismo se processa em nossa mente, em nossos atos, de todos nós, que até lutamos pra não sermos racistas, mas que, por resultado da nossa socialização, reproduzimos o tempo todo pensamentos e atos racistas, sem, às vezes, sequer perceber. O mesmo digo sobre a Homofobia: não é porque assistimos Big Brother ou novelas da Globo que aprendemos a conviver com os homossexuais. Só quem é gay sabe o quão difícil é “amar”, sentimento e experiência que todos nós desejamos em sua forma plena. Se uma relação heterossexual, que é normatizada positivamente pela nossa sociedade, já é supercomplexa e difícil de se estabelecer com completude, imagine o quanto é uma relação homoafetiva?

As pessoas precisam entender as formas em que as relações homoafetivas ocorrem. O preconceito faz com que os homossexuais em busca de uma companhia, seja por amor ou apenas sexo, muitas vezes tenham que "comprar" parceiros jovens e viris em troca de presentes, e hoje muito comumente, em troca de drogas. Este parceiro não o ama, muitas vezes sequer tem prazer físico no ato sexual. Assim o ódio se amplia, dada a sensação de quebra da pureza "natural" deste parceiro. A linha entre este ódio mental, esse nojo pessoal, e um ato brutal de violência é muito tênue. Isso é HOMOFOBIA, e é muito comum casos assim em grandes cidades. A droga, a loucura do seu efeito, é só um estopim pra isso. Na sequência, esses criminosos buscam roubar tudo que puderem do parceiro gay, como forma de justificar a verdadeira motivação de um "michê" (como é chamado) em se envolver com um gay: obter algum ganho com isso.

Se a nossa sociedade não considerasse a homossexualidade uma doença, uma coisa inaceitável, os gays não precisariam buscar pessoas assim "na pista". Haveria mais homossexuais e bissexuais assumidos, que se permitiriam tranquilamente ser cortejados por um homem, ter uma relação normal, afetiva, com um gay. O "michê" não é um homossexual, ao menos no sentido próprio do termo,  ele vende seu corpo, e muitas vezes faz isso por uma vida de miséria.


Eliano era um corajoso, não se importava com o que a sociedade (a hipócrita Barreiras) pensava. Certamente esse não foi o primeiro, nem o segundo "monstro" com quem ele se envolveu e que poderia num momento de loucura (causado pela droga, por exemplo) matá-lo brutalmente, exercitando todo o ódio e crueldade que muitos desses "michês" carregam por seus "clientes".

Não vou ignorar os erros que ele cometeu na vida (já ouvi algumas histórias), mas como me disse ontem um colega "ele não era uma pessoal do mal". Sua malandragem era o seu "modo de navegação social", e assim como a Virgem Maria perdoou e acolheu João Grilo em "O Auto da Compadecida", certamente teria feito o mesmo por ele.


Digo, sem nenhum medo daqueles que hoje o execram, que Eliano está fazendo falta e que Barreiras fica mais cinza (e obscura) sem a presença dele.

- por Sandro Ferreira

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

"O Circo Chegou... e chegou para ficar", por Paulo Roberto Baqueiro Brandão

No último dia 17 de outubro de 2011, chegou à cidade um circo estranho. Fincou estacas e levantou lona nas imediações da primeira rotatória da BR-242, sentido Salvador-Brasília, no trecho conhecido como Av. ACM, onde, de vez em quando, logo em frente, outros circos e parquinhos mais alegres e multicoloridos também costumam entreter a nada feliz população de Barreiras.

Muitas pessoas curiosas foram ver a trupe, que se chama Circo Casa do Povo. Foi tanta gente que uma turma ficou de fora. Mas até quem entrou sofreu apuros com os apertos e a gritaria incessante dos espectadores, que esperavam a cortina descerrar e o espetáculo começar com tudo o que um circão dos bons costuma oferecer.

O circo era muito estranho. Era monocromático, tocava músicas de uma nota só e os artistas conversavam em uma língua estranha, que só quem fazia parte da comitiva circense era capaz de entender. As atrações, verdadeiras misturas de “vade-retro” com “cruz-credo”, estavam mais para bizarras que para divertidas.

Tinha uns quantos leões, nada dóceis, que não saltavam as argolas flamejantes. Ao contrário, faziam a plateia saltar a cada rugido ameaçador, de um inconfundível sotaque pernambucano. Alguns macaquinhos, estranhamente bem posicionados na arquibancada, assoviavam, gritavam e macaqueavam a cada momento de excitação extrema, quando se anunciava a vinda de um circo ainda maior, que logo vai chegar para ficar.

Havia animadoras. Apenas duas, é verdade. Mas causaram retumbante alvoroço quando desceram glamorosamente as escadas de onde saíam as atrações principais, mandando beijinhos para a plateia no melhor estilo das saudosas chacretes.

Com elas também apareceram os mágicos. Ah, os mágicos!! Aqueles senhores sempre bem vestidos que fazem as coisas sumirem diante dos nossos olhos, sejam pombos, moedas, ou mesmo um grande patrimônio público. Sempre quis saber para onde vai tudo isso que os ilusionistas teimam em fazer desaparecer...

A plateia, ensandecida, gritava e gritava. Uns pediam o dinheiro de volta, pois o circo ia se tornando cada vez mais estranho, com as suas atrações bizarras. Outros, que, junto com os macaquinhos, faziam muito barulho, desejavam mais e mais, exigindo um desempenho de gala dos artistas.

Eis que, em um momento de clímax, as luzes se apagaram e uma das animadoras, sem quê nem pra quê, virou a Monga, a Mulher-Macaco. Ao menos foi isso que pareceu quando as suas atitudes ganharam um tom de ferocidade, berrando e apontando os dedos para todos os lados, como quem está prestes a atacar os incautos espectadores. Encenação, claro. Mas não dá para negar que mete um medo danado!

Antes que alguém pergunte pelos palhaços, é melhor contar logo. Esses estavam espalhados por toda a cidade. Tristes e desiludidos, pois lhes negaram o picadeiro, mais pareciam pierrôs traídos por uma nada elegante colombina que fez promessas melodiosas aos pobres coitados.

Artista de mil habilidades, a colombina, que é animadora, Monga, mas também cantora, entoou uma balada que inebriou os ouvidos dos palhaços, um verdadeiro canto da sereia que agora faz os barcos naufragarem na curva de um rio que já foi grande, exatamente onde vão erguer o novo circo.

Obs.: Qualquer ligação com uma certa audiência pública que ocorreu na mesma data é mera coincidência.

por Paulo Baqueiro (Professor da UFBA)

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

"Como se 'Cria' uma Nação", por Paulo Baqueiro


“Nação Oestina”. Este é um termo largamente atribuído à população do Oeste Baiano quando o tema é a criação do estado do (Rio) São Francisco. Prenhe de um inconcebível ufanismo, a concepção de “nação” é empregada com muito pouca acuidade conceitual, o que pode gerar interpretações extremamente perigosas. Este termo, aliás, nem sequer deveria estar na pauta de discussão sobre a criação da nova unidade federativa, tal é o disparate da sua apropriação como argumento separatista.

Nós, que habitamos a porção do território baiano à esquerda do majestoso “Rio da Integração Nacional”, independente de termos nascido aqui ou acolá, não formamos uma nação distinta do restante dos brasileiros, como sugerem aqueles que fazem uso de tal termo. Dito de outra forma, a tal “Nação Oestina” simplesmente não existe.

O historiador Eric Hobsbawn, na magistral obra Nações e nacionalismo desde 1780, afirma que uma nação corresponde a um quantitativo considerável de pessoas em cujos membros se consideram como membros de uma “nação”. Em outras palavras, para constituir uma nação, um grupo deve ter consciência de tal condição. Assim, é necessário que “os de dentro do grupo”, ou seja, os membros conscientes da sua condição de nação, enxerguem uma dada homogeneidade que os façam se tratarem como iguais e, ao mesmo tempo, os diferencie “dos de fora do grupo”, aqueles que são os demais membros da sociedade da qual fazem parte.

A identificação com elementos materiais e simbólicos que promovem aquilo que Milton Santos chamou de “solidariedade orgânica” é também territorial, pois gera laços entre o grupo e o espaço em que o primeiro se reproduz socialmente.

Para exemplificar, pensemos no Euskadi (País Vasco ou Vasconia, ambos os termos em espanhol), que constitui uma Comunidade Autônoma do Reino da Espanha, mas cujos laços histórico-culturais transbordam para outras comunidades e mesmo para além da fronteira com a França, constituindo um território em dois Estados distintos. O elemento de unidade (que dá sentido à ideia de nação) é o idioma, o euskera (mais conhecido como língua basca). Neste caso, o habitante do Euskadi, pelos valores histórico-culturais que possui, não se vê como espanhol, já que não usa o idioma castelhano. O mesmo ocorre na Catalunha e na Galícia, outras das comunidades autônomas espanholas.

Os palestinos, por sua vez, possuem, além da religião, o idioma e o alfabeto como elementos que os diferenciam dos judeus. Porém, sua ascendência genética – que define a etnia – os aproxima daqueles que expropriam o seu território (os mesmos judeus anteriormente citados). Trago este segundo exemplo para mostrar que, ao contrário do que fazem parecer por meio da propalação do termo em questão nos discursos separatistas do Oeste Baiano, a formação de um sentimento nacionalista é extremamente complexa.

Em outra perspectiva, pensemos nos torcedores de um clube do futebol. Tomemos a mim a aos milhões de torcedores do Esporte Clube Bahia, que nos autodenominamos “Nação Tricolor” como o caso a ser analisado. Todos somos tricolores, é verdade. Mas, antes disto, somos brasileiros, lusófonos, adeptos (ou não) das mais diversas matrizes religiosas existente no Brasil, possuímos identidades territoriais ligadas a bairros ou cidades as mais diversas. Ou seja, não nos distinguimos em nada dos torcedores do Vitória – ou de qualquer outra torcida brasileira – naquilo que importa quando se fala em uma nação.

Portanto, empregar o termo “Nação Tricolor” como um elemento de identificação dos torcedores do glorioso Esporte Clube Bahia serve tão somente para demonstrar a existência de uma coesão que é parcial e momentânea, pois se torna real apenas quando o assunto é futebol.

No caso do Oeste Baiano, que elementos partilhamos, como pretensos formadores da nação, para nos fazermos sentir diferentes dos demais grupos que nos rodeiam? Empregamos um idioma diferente dos demais (gírias e sotaque não contam, por favor!)? Temos uma história regional que se distancia da formação territorial das demais regiões do Brasil Interior? Temos uma formação étnica que nos singulariza diante dos demais brasileiros (e olha que nem deveríamos confundir etnia com nação)? Professamos uma mesma religião? E, por fim, como indivíduos, temos vínculos de unidade, partilhamos os mesmos interesses, nos vemos como iguais?

Não possuímos nenhum dessas especificidades, pois:
  • usamos a mesma língua que os demais brasileiros, com as diversas nuances de sotaque e gírias construídos do contato entre baianos e demais nordestinos, goianos, mineiros e sulistas, bem como da força da mídia, sediada no eixo Rio-São Paulo. Mas, ainda assim, nos comunicamos no bom e velho português;
  • a constituição territorial do Oeste Baiano é parte de um movimento maior da nossa formação geográfico-histórica, resultante da paulatina apropriação econômica do interior do país, iniciada ainda no período colonial;
  • do ponto de vista étnico, somos o resultado eternamente inacabado de diversas misturas, que ocorrem de modo similar em outras partes do Brasil;
  • professamos o catolicismo, o protestantismo, o budismo, o candomblé, qualquer outra religião ou nenhuma delas, do mesmo modo que outras pessoas o fazem pelo restante do país;
  • somos muito diversos nos interesses, desejos, aspirações, classes.


Por tudo isso, somos diversos, heterogêneos, não possuindo o tal elemento de coesão histórico-cultural e territorial que faria de nós, habitantes do Oeste Baiano, uma nação. Assim, ao tratarmos o tema do nacionalismo com seriedade, buscando enquadrá-lo às premissas científicas que o termo merece, a “Nação Oestina” tem tanta validade quanto a “Nação Tricolor”.

A utilização do termo “nação” para designar a população que habita o Oeste Baiano poderá, em um limite extremo, criar cisões que suscitariam extremismos entre os que querem e os que não querem a separação da Bahia. Insistir no uso de tal palavra é, portanto, uma irresponsabilidade. O que sugiro é que, ao invés de celebrarmos a sandice do tal nacionalismo oestino, que nos orgulhemos da diversidade que possuímos, independente destas terras virem a se tornar (ou não, como diria Caetano Veloso) uma nova unidade federativa.

por Paulo Roberto Baqueiro Brandão
Professor de Geografia do ICADS/UFBA

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

“Do Crescimento Econômico ao Desenvolvimento Econômico e Humano: um caminho a ser construído!”, por Márcia De Liberal

Entre os dias 15 a 20 de agosto, aconteceu no ICADS/UFBA o Fórum sobre Desenvolvimento Humano e Econômico em Barreiras organizado pelo PET Humanidades – Programa de Educação Tutorial, durante o qual foram abordados temas de extrema relevância para o futuro da nossa região, tais como: Crescimento Econômico, Políticas Públicas em Saúde, Políticas Públicas em Educação, Políticas Públicas em Habitação, Políticas Públicas em Saneamento Básico e Desenvolvimento Humano, discutidos entre professores especialistas nas áreas e gestores públicos da cidade.

Na palestra intitulada O Crescimento Econômico em Barreiras, buscou-se esclarecer a diferença existente entre os conceitos de Crescimento Econômico e Desenvolvimento Econômico, mostrando que o primeiro é mais restrito, pois está centrado no aumento quantitativo da capacidade produtiva e, principalmente, na renda. Já o segundo conceito, baseado na transformação qualitativa da estrutura da economia, abrange todas as formas possíveis de melhorias na qualidade de vida advindas do crescimento da economia, incluindo a diminuição na taxa de analfabetismo, o aumento na expectativa de vida, as melhorias na qualidade da educação e da saúde, o aumento da oferta de emprego, o saneamento, a preservação do meio ambiente, entre outras.

Dessa forma, o objetivo central era expor que uma realidade social pode ser modificada com a colaboração ativa de todos os integrantes da sociedade envolvidos no processo. Sendo assim, é necessário compreender que o desenvolvimento econômico é sempre uma consequência do crescimento econômico, relação esta que nunca se dá de forma contrária. Portanto, sabemos se um país teve ou não Crescimento Econômico observando a taxa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto: é o valor monetário total de todos os bens e serviços finais produzidos na economia de um país durante o período de um ano); e, se teve ou não Desenvolvimento Econômico observando os diferentes indicadores do Desenvolvimento Humano.

Analisando esta visão da conjuntura macroeconômica sobre o potencial de Barreiras, sem excluir todos os impasses dos conflitos ambientais gerados pelo agronegócio, é importante ressaltar que um dos pontos fortes da região está justamente neste segmento da economia e os seus possíveis desdobramentos. Isso inclui a implantação de um parque industrial, implica no aumento da oferta de empregos, agrega valor aos produtos e aos serviços, além de promover a chegada de novas universidades que devem funcionar como centros de conhecimento teórico e prático, tendo em vista a elaboração de propostas voltadas para tratar das questões locais e que apresentem condições viáveis de transformar a vida da cidade e dos seus habitantes. Para isso acontecer, é preciso entender que só é possível ultrapassar e vencer a fronteira da pobreza com oportunidades capazes de gerar melhorias em todos os aspectos da vida social.

Vale lembrar ainda que, apesar do reconhecimento dos malefícios de um trabalho executado sem planejamento e sem equilíbrio no setor primário da economia, em especial a desigualdade no acesso aos alimentos por parte da população em nível mundial e o desmatamento de florestas que deveriam ser preservadas para manter o ecossistema, o agronegócio praticado sob a orientação de profissionais qualificados e ambientalistas pode ajudar o mundo a ser um lugar onde todos possuam chances de viver com dignidade e comprometimento com as futuras gerações. O célebre poeta inglês, William Blake, que deixou para a posteridade a frase “Onde o homem não está, a natureza é estéril”, leva-nos a refletir melhor sobre a importância da consciência humana no trabalho sustentável com a terra.

Para finalizar, são importantes os seguintes questionamentos: Almejamos ver a cidade de Barreiras inserida em um programa de crescimento econômico e sustentável permanente com conquistas no campo sócio-econômico? E, por que não toda a região oeste da Bahia? Se assim for, não basta apenas pensar em realizações do ponto de vista individual ou meramente mercadológicas. Somos responsáveis pela promoção de uma visão ampliada de sociedade, uma vez que, cada cidadão pode dar a sua contribuição inserindo-a em um contexto mais abrangente capaz de traduzir a ideia e o sentido de coletividade.

Este caminho almejado pode ser construído!

por Márcia Mello Costa De Liberal
Professora Adjunto do Curso de Administração
ICADS/UFBA

terça-feira, 23 de agosto de 2011

" 'Sou agro'. Cuidado!", por Martin Mayr

O agro-empresariado brasileiro anda preocupado com a sua imagem. Recentemente, o setor lançou a campanha “Sou agro”. Gente da popularidade de Lima Duarte e da lindeza de Giovana Antonelli fica encarregada a confidenciar ao povo brasileiro como seja legal virar agro. Na cantada, ouve-se muito de “campeões de tecnologia”, “provedores de divisas”, “ambientalistas natas”, “patriotas de verdade”, etc. Entretanto, a tecla mais batida pela campanha é a seguinte: “Somos nós que alimentamos o mundo”.

Este afirmação contém umas verdades e esconde muitos problemas. Sem dúvidas, Brasil dispõe sobre condições privilegiadas para produzir grãos, fibras, óleos, leite e carne em altas escalas, o que acaba favorecendo toda comunidade dos consumidores com um abastecimento constante a preços (cada vez menos) pautados pela grande oferta.

Mas, os manejos industriais de tirar alimentos, fibras e energia causam enormes problemas ambientais, uma crescente concentração fundiária e o esvaziamento populacional da zona rural. Os “agros” consideram tais conseqüências como secundárias, toleráveis em vista do seu papel como fiadores da segurança alimentar e energética global. A sociedade, assombrada com o fantasma de uma superpopulação faminta, tende a conformar-se com a sobreposição do agronegócio grande. Por conseguinte, o governo, pouco questionado pela sociedade, continua subsidiando fortemente o setor, com políticas ao gosto do agro-lobby.

A onda marqueteira do agronegócio brasileiro promete alimentar o mundo graças a excelência da sua tecnologia e do aproveitamento racional do espaço. Na realidade, porém, tal compromisso é cheio de ambiguidades e parcialidades. Seguem umas considerações que não fazem parte do discurso dos “agros”, mas precisam ser levadas em conta, sob ameaça de caríssimos enganos.

1. Pelos levantamentos da “Organização das Nações Unidas pela Agricultura e Alimentação – FAO”, 64 % dos alimentos plantados no Brasil acabam no lixo, perdidos nos campos, nos transportes, nos armazéns, nas indústrias, nos pratos. O bom senso conclui que antes de produzir mais, devemos desperdiçar menos. Isto é possível. A própria FAO recomenda medidas que permitem reduzir as percas mela metade, disponibilizando enormes quantidades de comida sem que alguém precise consumir menos. Entretanto, economizar mais e desperdiçar menos significará uma redução na demanda de sementes, adubos, defensivos, máquinas, etc. E isto é justamente o contrário ao que interessa os “agros”.

2. Os “agros” costumam desperceber que uns comem em excesso enquanto outros passam fome. Ignoram que a crise de alimentação anda associada a uma crise nutricional que espelha a crise civilizacional do mundo industrializado. Parece que os “agros” acham desejável que todo mundo se aproprie do mesmo padrão alimentar e nutricional das sociedades ricas. Nas mesmas, as pessoas engolem – para citar um exemplo – em média 90 kg de carne por ano; o que não lhes faz nada bem, mais ocupa cerca de 70 % das terras agriculturáveis com a produção de ração animal para alimentar os bichos. A maior parte da soja não é convertida em alimento humano, e sim em ração animal, principalmente para criar gado, porcos e frangos. Pelo “Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas”, a demasiadamente aumentada criação de gado no mundo é considerado como uma “bomba climática”, já que os puns e arrotos dos animais provocam uma constante emissão de metano, um gás bem mais nocivo ao clima do que o carbono dióxido. Constrange que ao menos oito de dez “agros” acham isto ridículo.

3. A expansão agropecuária desejada pelos “agros” significa pressões ambientais muito além das razoavelmente conhecidas conseqüências de desmatamento, esgotamento de água doce e eliminação da biodiversidade. Muitas pressões não acontecem necessariamente na região da exploração agropecuária. Seguem dois exemplos. A exorbitante maioria dos solos brasileiros depende de fertilizantes. Tais demandas vêm provocando uma crescente onda de minas para suprir a dependência do exterior (p.ex. 90% do potássio é importado). Hoje, a agricultura intensiva acaba sendo uma das mais fortes incentivadoras da expansão dos empreendimentos de minério, particularmente em regiões ecologicamente muito sensíveis como a Amazônia. – Muito menos visível ainda é a passagem dos agro-defensivos pelo organismo dos consumidores. Olhando para Giovana Antonelli, quem é que repara que a mesma é sujeita de digerir anualmente 3,6 litros de agrotóxicos, o que é a média consumida pelos/as compatriotas brasileiros/as? Brasil é campeão mundial na aplicação de agro-tóxicos. Dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) mostram que 15% dos alimentos consumidos pelos brasileiros apresentam taxa de resíduos de veneno num nível prejudicial à saúde. Não há nada de conforto no fato que os “agros” engolem o mesmo tanto de veneno quanto a tremenda maioria dos demais brasileiros/as.

4. Amartya Sen, economista indiano laureado com o Prêmio Nobel de Economia em 1998, demonstrou no seu livro “Poverty and famines” que as crises de fome, com raras exceções, não existem por falta de alimentos e sim por falta de acesso a tais. O arroz existe, mais o faminto carece do tostãozinho para adquiri-lo. Portanto, há um pressuposto precipitado no lado dos “agros” quando alegam que a sua capacidade produtiva salvará as pessoas da fome. Quem diz que futuramente os pobres terão mais facilidade de comprar a produção dos “agros” do que hoje? Os índices de preços apontam para o lado oposto: Convivemos com um encarecimento assustador dos alimentos básicos. Se os “agros” fossem realmente preocupados com o abastecimento alimentar do mundo, perseguiriam, antes de tudo, as metas de rebaixamento dos preços, e subsidiariam massivamente campanhas que combatem a pobreza. (Aliás, a história mostra que o combate à pobreza é a medida mais eficiente para combater o crescimento populacional – o inverso, além de ser autoritário, surte menos efeito.) Pelo visto, não tem nada disto na sua campanha.

5. Lembrando o famoso ditado de Ivan Illich: “A sede virou Coca Cola”, pode-se constatar que na lógica dos “agros” a fome vem virando “Monsanto”, “Nestlé”, “Kraft Foods”, etc. São mega-grupos que conseguem transformar seus produtos em necessidades. No entanto, olham muito antes para o valor das suas ações do que para a fome do mundo. Parece até tragicômico como a maioria dos “agros” menores se joga nos braços dos “meta-agros”, os quais impõem nem somente as regras de jogo em toda cadeia agro-industrial, como também prescrevem cada vez mais a fixação dos preços nas bolsas internacionais onde os alimentos viram meros ativos financeiros. Cada vez menos, os preços dos alimentos respondem à real oferta e procura, e sim, refletem os caprichos especulativos em torno de safras nunca colhidas, percas nunca materializadas, transações nunca efetuadas. São os super-capitalizados “Monsanto”, “Nestlé”, “Kraft Foods”, etc. que lucram com isto. No outro lado, os que mais necessitam de reais alimentos são os que pagam mais caro neste sistema perverso. Queriam distância dele, almejam “soberania alimentar” – um termo, contudo, que não consta no vocabulário dos “agros”.

Diante da promessa dos “agros” de alimentar o mundo, vale citar o ditado de um povo africano muito experimentado com a fome: “As asas maiores não garantem o vôo mais alto”. É o que os “agros” negam na sua campanha triunfalista, como banalizam os impactos nocivos das suas atividades. Cuidado, então, com as cantadas de Duarte e Antonelli.

por Martin Mayr
Agência 10envolvimento – Barreiras – BA
Agosto de 2011