terça-feira, 3 de maio de 2011

“Barreiras na travessia”, por Valney Dias Rigonato

Barreiras é uma importante cidade na região do Oeste da Bahia. Um município banhado pela fronteira do agronegócio. Há na cidade a concentração de vários serviços, instituições, multinacionais e outras. Além disso, é notório o crescimento (des)ordenado do espaço urbano. Em sua própria toponímia guarda o papel dos rios – rio Grande e o rio de Ondas - enquanto obstáculo das territorialidades pretéritas. No entanto, talvez hoje os obstáculos do passado servem enquanto travessia para as territorialidades presentes.

Uma típica cidade que perpassa pelas metamorfoses da fronteira agrícola moderna. Tal realidade pode ser visualizada também em Chapadão do Céu (GO), Rondonópolis (MT), Balsas (MA) e também em Luiz Eduardo Magalhães (BA) é, evidente que cada uma com suas especificidades espaciais.

Barreiras, portanto, situa-se no encontro desses dois importantes mananciais: rio de Ondas e o rio Grande. O primeiro, fonte de inspiração da população local em suas estórias, fonte de lazer e motivação científica para várias pesquisas. O segundo, majestoso pela sua própria natureza, cuja ocupação ultrapassa as áreas de preservação permanente. É, também na foz do rio de Ondas que germinam os grãos de areia que potencializam a construção da infraestrutura urbana e, mormente brotam relações humanas ímpares.

Legenda: Os areeiros na foz do rio de Ondas em suas atividades trabalhista diária.
28 de Abril de 2011. Rigonato, 2011.

Como se observa na figura acima é na travessia que alguns moradores de Barreiras retiram a sua sobrevivência. O areeiro: ator emblemático da paisagem do rio de Ondas o qual utiliza enquanto sua atividade trabalhista para a própria sobrevivência. Ambas desenvolvidas na travessia. Personagens que encontraram na travessia a possibilidade de interrelação do seu modo de vida com o modo de vida imposto pela modernidade.

Segundo, os próprios areeiros “Hermenegildo, Azulão, Brito, Lourival e Nossa” a atividade é árdua, porém compensatória para a sobrevivência. Diariamente um areeiro retira em média quatro metros de areia que correspondem, quatro a cinco barcos. Além disso, os mesmos afirmaram que existem aproximadamente 100 trabalhadores, ou melhor, areeiros.

Diante dessa realidade, torna-se importante frisar que o agronegócio dilapida as paisagens do Cerrado. Com isso, amplia-se o quantitativo de sedimentos e as desigualdades sociais tornam-se mais acirradas.

Essa travessia é o lócus do encontro do tradicional com o moderno. O encontro das velhas e novas territorialidades. Lugar típico da sedimentação da exploração das relações de trabalho, da intensificação da relação sociedade-natureza e, sobretudo, lugar no qual emerge a ressignificação das especificidades espaciais de Barreiras (BA).

Assim, para os profissionais da Geografia as paisagens é um quadro humano revelador dos atores das transformações espaciais. É importante contemplá-las e significativo, observá-las, senti-las e ouvi-las. O Instituto de Ciências Ambientais e Desenvolvimento Sustentável – ICADS, da Universidade Federal da Bahia e, consequentemente o curso de Geografia estão atentos às transformações dessas paisagens.

Enfim, que os atores e autores do rio de Ondas possam compreender que os sedimentos naturais e sociais de outrora já não possuem a mesma gênese socioambiental do presente.

por Valney Rigonato
Professor do ICADS/UFBA
Coordenador do LAPEGEO – Laboratório de Ensino,
Pesquisa e Extensão em Educação Geográfica.

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