Todos devem ter acompanhado a recente visita da nossa presidenta (como ela prefere ser chamada) à China. Nas negociações que levaram Dilma ao Oriente, o ponto principal dizia respeito ao tipo de acordo que os dois países têm mantido, com uma clara vantagem para os chineses. A questão é que, de forma geral, o Brasil exporta commodities e importa produtos manufaturados. Vendemos minérios para o exterior e exportamos produtos tecnológicos de cujos componentes os minérios fazem parte. Para ficar na sensação do momento no Oeste, o tal do tálio, a tendência é de extrairmos o produto, exportar e depois comprar equipamentos de que ele faz parte. Aquilo que o Brasil sabe fazer bem quando, por exemplo, exporta minério de ferro e importa aço. Dilma quer, portanto, modificar nossa forma de negociar, tentando “agregar valor” (sei que a expressão ajuda a desagregar a inculta e bela língua portuguesa) aos nossos produtos. Daí ter sido comemorado como um grande negócio a notícia de que a empresa Foxconn vai fabricar o iPad no Brasil.
O que chama a atenção nisso tudo é um problema de fundo, sem cuja solução o Brasil vai estar sempre impedido de ir mais além. Indo logo ao ponto, refiro-me à educação. Noticiou-se que a Foxconn pode gerar, em cinco anos, cem mil empregos, dos quais vinte mil seriam para engenheiros. Uma só empresa é capaz de produzir tantos postos de trabalho. Imaginem um cenário ideal em que várias empresas venham “agregar valor” ao produto interno bruto nacional para que eles sejam vendidos de forma manufaturada; imaginemos mais: em vez de depender apenas de empresas internacionais, o Brasil comece a ter suas próprias empresas, como a Petrobrás. Quantos postos de trabalho seriam criados nesse boom desenvolvimentista? Agora a pergunta: temos mão de obra qualificada para atender a essa demanda? Temos massa crítica para transformar a natureza em si em fenômenos industrializados? Como a resposta é conhecida, vamos aos problemas.
Embora muitos afirmem que começou com Galileu a aventura moderna, baseada na ideia de que a natureza é escrita em linguagem matemática, portanto, sem dominar essa linguagem não podemos dominar o mundo, disso os antigos já sabiam, pois é pitagórico o princípio de que a natureza é escrita em linguagem matemática. Em suma, desvendar os segredos da natureza não é possível sem matemática. É claro que a modernidade, na qual em grande medida ainda estamos mergulhados em termos científicos, levou essa equação ao infinito. Graças à matemática, mesmo a física se modifica completamente no mundo moderno, quando comparada à dos antigos. Eis que matemática e física, justamente os conhecimentos mais elementares para a produção do conhecimento tecnológico, é o que mais falta aos brasileiros. Em termos de déficit, na privilegiada educação nacional, elas – matemática e física – ocupam um lugar mais privilegiado ainda.
Tudo isso é óbvio demais. Mas aquilo que todos estão cansados de saber, e por isso parece que ninguém se importa mais, dói na pele quando nos atinge e faz sangrar. Nesse aspecto, nossa situação particular do Oeste baiano realça com muita força essa verdade universal brasileira. A cada ano, o número de ingressantes nos cursos de graduação do ICADS vem diminuindo. Chegamos ao cume de não termos nenhum aluno matriculado no curso de matemática em 2011. Nos demais cursos, geologia, física, química, por exemplo, a situação não é melhor. É um fenômeno que ainda estar para ser explicado, mas lembro que em 2006, quando houve o primeiro vestibular, os números eram mais animadores, embora não houvesse ainda os cursos de matemática e física.
A situação então é a seguinte: estamos numa região cuja produção é exclusivamente de commodities, e temos, por outro lado, uma universidade federal com professores e laboratórios, que devem preparar da melhor forma as pessoas pensantes e qualificadas para tomar sob os seus ombros a responsabilidade pela transformação intelectual, social e econômica (fiquei tentado a escrever política, mas a questão é ainda mais complicada) que se acena no horizonte. Contudo, não é isso o que está acontecendo, pelo menos não como seria desejável. Estamos longe disso. Mais uma vez, o Oeste reflete exponencialmente os problemas do Brasil. Volto ainda a essas questões.
Por Marcio Lima
Concordo plenamente com essa argumentação. Contudo, vamos problematizar um pouco mais. Conhece vários ex universitários dessa instituição e tantos outros que sonharam dela fazerem parte, porém, como os seus cursos são oferecidos apenas para as classes médias. Isto é, somente para quem não trabalha e tem disponibilidade para estudar durante o dia, estão de fora. Não estaria esse episódio também contribuindo para o esvasiamento dos cursos?
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