Na semana passada, viria a Barreiras uma comissão da UFBA de Salvador para dar andamento ao processo de implantação do curso de medicina no ICADS. A visita, no entanto, acabou não acontecendo. Mas o fato é que isso se tornou notícia e movimentou o noticiário local. O evento é bem ilustrativo do funcionamento da política do Oeste Baiano.
O jornal Nova Fronteira, por exemplo, noticiou que o deputado federal Oziel Oliveira (PDT-BA), em encontro com o ministro da saúde Alexandre Padilha, engrossou o coro para que o curso venha. E assim foi durante os dias seguintes, com a classe política assanhada, todos querendo dar sua contribuição. Se de fato vir a existir um curso de medicina no ICADS, obviamente que todos vão querer colher os frutos, reivindicando seu quinhão de contribuição. Já sabemos à exaustão como isso funciona. O mais curioso é que dos vários nomes mencionados, não vi o nome do diretor da Faculdade de Medicina, José Tavares Neto, que é o verdadeiro autor e defensor primeiro do projeto. Seu piparote inicial, como diria Machado de Assis, é o responsável por colocar em marcha todo o andamento das negociações ora em curso.
Nem mesmo o ICADS, que sempre é responsável por sugerir a criação de seus cursos, tem mérito na proposta, pelo menos até o momento. Ouso dizer que se o curso vier, será um presente que nos foi dado, que nos cai no colo, como se diz por aí. No entanto, os políticos já se articularam para colher os frutos do trabalho alheio. Conhecemos a expressividade de nossos políticos locais para saber que eles têm um peso quase nulo na hora de influenciar qualquer decisão superior.
Mais uma vez, estamos diante do que há mais atrasado na política do Brasil, atraso que se sedimentou de tal forma por essas bandas que nem um abalo sísmico parece capaz de afetar. Quando o deputado Oziel Oliveira planta na imprensa a notícia de que pediu ao ministro da saúde para implantar o curso de medicina em sua região de atuação, ele nada mais está fazendo do que a política da voz do Brasil. Em tempos de internet, a tirania do famoso noticiário político oficial é bastante reduzida. Antes, quem dependia das rádios para ouvir música se aborrecia quando, às dezenove horas, tocava a abertura da ópera O Guarani de Carlos Gomes e uma voz anunciava a hora na capital federal. Era o momento de desligar o aparelho.
Mas é um erro acreditar que ninguém ouvia a voz do Brasil. Nos rincões do gigante adormecido, ela funcionava muito bem, e era um dos principais canais de comunicação dos parlamentares com sua base eleitoral. Nesse aspecto, quando o locutor anunciava que fulano de tal pronunciou um discurso em favor da criação de um açude em sua região, seu eleitor, do outro lado, acreditava que seu representante o estava representando.
Se a internet nos deu autonomia para escutarmos música como quisermos sem ter de ouvir a abertura de Carlos Gomes, por outro lado ela tornou-se o meio pelo qual os políticos geram notícias para dar a impressão de que estão trabalhando. No inconsciente coletivo de muitos (para dizer o mínimo) dos que leram a notícia, já está plantada a ideia de que Oziel Oliveira contribuiu – se não pensarem outra coisa – para que houvesse um curso gratuito de medicina em Barreiras. Depois do curso implantado, é só completar o trabalho e colher os resultados, dentre os quais uma solene homenagem da primeira turma de formandos.
Por Márcio Lima