Hoje, dois de fevereiro, muitos brasileiros buscam as águas para uma conversa com elas, ou com as entidades religiosas que as representam. Em Salvador, no Rio Vermelho, muitos, muitos mesmo, vão realizar pedidos ou agradecimentos a Yemanjá, numa festa mundialmente conhecida. Aqui em Barreiras, numa cerimônia ainda nem tão conhecida assim, o povo de santo (do Candomblé e da Umbanda) se encontra com o Rio Grande para falar com Oxum, a orixá das águas doces.
Essa celebração no cais de Barreiras está envolta numa simbologia enorme. É muito mais do que uma cerimônia religiosa, é a oportunidade de chegarmos perto dos nossos rios para uma reflexão sobre o que eles representam para nós. Ainda mais, é também uma oportunidade de olharmos para o céu e pensarmos porque os deuses dos trovões, os orixás dos raios, têm reagido tão ferozmente contra o povo, mandando chuvas torrenciais que derrubam encostas, matam milhares. Verdade que aqui em Barreiras as chuvas até são bem vindas, apesar dos estragos que fazem (ou evidenciam) nas nossas ruas.
É tempo de falarmos com as águas, de reverenciar o Rio Grande. Pensar quantos estragos estamos fazendo nele, poluindo-o, extraindo dele água demais para irrigar produtos que sequer ficam nas nossas mesas. Recentemente fomos surpreendidos com o dia em que parecia que o “mundo havia acabado” (nas palavras de um ribeirinho) quando de repente o rio preto secou de repente, simplesmente porque alguém resolveu do nada fechar uma represa sem pensar nos milhares que vivem, quase que veneram, estes rios.
“O sertão vai virar mar, e o mar vai virar sertão”. (Antônio Conselheiro)
É hora de pedirmos proteção a Yemanjá e a Oxum. É hora de nos apegarmos a todos os saberes, especialmente aqueles que interpretam a complexa relação do homem com a natureza. Hoje, numa linda festa, de um povo que insiste bravamente em manter suas tradições mesmo sofrendo todo tipo de preconceito de nossa “democrática” Barreiras, teremos a oportunidade de nos reconciliarmos com “todos os santos, encantos e axés” desta terra, para quem sabe um dia, aprendermos a conviver com a natureza e com nós mesmos.
- Por Sandro Ferreira
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