Na véspera do início do carnaval em Barreiras e na Bahia, como é que vamos pensar, escrever e falar sobre buracos, nos buracos de uma das principais cidades do Oeste baiano. Inevitavelmente, vemos, faça sol e principalmente faça chuva, brotarem e se espalharem pelas ruas, buracos e mais buracos, o que leva alguns ainda revoltados com essa situação a afirmarem que “a cidade tá destruída”, “a cidade tá abandonada”, “a cidade não tem mais jeito”, “aqui quem lucra são os mecânicos”, ou, aqueles mais acomodados falarem “isso é Barreiras mesmo”, “você está em Barreiras”, “aqui é assim, desse jeito, cheio de buracos mesmo”, e que leva a qualquer recém-chegado a cidade a comentar: “aqui não tem prefeito?”.
Para se ter noção do descaso, com aquele velho empurra-empurra e do jeitinho brasileiro do poder público local, surgiu até nos bairros periféricos de Barreiras, a TV Buraco, uma versão bem humorada da crítica popular e do desabafo da população efetivamente abandonada dos bairros periféricos. Todos os dias moradores dos bairros Cascalheira e Vila Rica, por exemplo, sofrem com a “desgraça do buraco”, um povo que tem sua mobilidade limitada e precária com as chuvas que abrem e enchem de água e lama os buracos. Mas o problema “gigante” dos buracos das ruas é apenas a “ponta do iceberg”. É preciso ir além, muito além dos buracos. Em muitas ruas os problemas não são simplesmente os buracos, mas a falta de asfalto, rede de esgoto e, em alguns casos, água potável e energia elétrica. A universalização radical de serviços básicos tem tanto o papel de distribuição indireta de renda como, por outro lado, provocar a necessária diminuição do poder imobiliário privado (em articulação com o público) sobre o acesso e permanência à moradia, uma das questões centrais e que parece ser “esquecida” em meio aos buracos de Barreiras.
Mas é interessante perceber, que esse mesmo recém-chegado irá notar que se não desse uma volta pelos bairros periféricos, iria ver e produzir uma imagem de uma cidade pela conservada BR que corta Barreiras. É impressionante, como a principal rua da cidade sempre está mais ou menos arrumada para os fluxos de caminhões de soja, milho, algodão, de máquinas do agronegócio, de mercadorias do comércio, de carros e motos, de ônibus e pedestres. Entretanto, ao rodar pelas ruas ao lado dessa BR, a realidade emerge, vem a superfície com muito vigor e saúde, são os buracos que surgem pipocando na frente de carros, motos e pedestres, quase ganhando vida na cidade pois é fácil criarmos amizade com o buraco da rua tal de tanto que o já conhecemos, que já sofremos com ele, faça chuva ou faça sol. Conhecer Barreiras é, portanto, conhecer seus buracos. E, quantos buracos, trechos de ruas praticamente intransitáveis em que é inacreditável como os carros, motos e o “coitado” do pedestre conseguem passar, adaptando-se as condições precárias de trânsito, de mobilidade e de acessibilidade. Apenas quem tem uma caminhonete se dá bem, mas, como eu, como você, não temos uma S10 e muito menos uma Land Rover, a maioria se dá muito mal. A cidade, por esses buracos e muito outros, parece um queijo, toda furada, toda roída e corroída por ratos, e quantos ratos...
Se no período da construção de Brasília governar significava abrir estradas, em Barreiras governar parece ter como função principal abrir buracos. Mas, a função do governo municipal não era fechá-los? E que dificuldade em enxergarmos um simples (nada simples em Barreiras) tapa buracos. Enquanto as estruturas do carnaval começam a ser levantadas pelo mesmo poder público no centro da cidade, os buracos se avolumam, “se afundam”, ou afundam pela precariedade das vias cada vez o principal município do Oeste Baiano. Mas, como podem surgir na cidade “berço” do agronegócio mundial e das belezas naturais, tantos buracos? De onde vêm tantos buracos? Da chuva, do sol... E quantos buracos existem, já existem estimativas, ainda não facilmente comprovadas, que exista um buraco para cada habitante em Barreiras! Que belo argumento para a próxima campanha eleitoral, a campanha dos “tapa buracos”. Parece unânime, o problema são os buracos!
Mas, de onde vem o problema e de onde virá à solução é que os habitantes se perguntam. Aqueles moradores dos bairros periféricos onde transitar já não é mais um direito de ir e vir, mas, sim, um desafio constante, mais um desafio na vida dessas pessoas que lutam diariamente pela sobrevivência e que, agora, lutam, também, para conseguir sair de casa, para o simples deslocamento e acesso ao local de trabalho, seja pulando, seja se contorcendo, seja batendo o motor ou amortecedor do carro, seja colocando o pé na lama nos inúmeros, superficiais, profundos e intermináveis buracos.
Quantos, como eu, como você, já não pensaram, já não se cansaram de pensar, mas porque, porque os buracos em Barreiras não são arrumados, tampados, fechados, parece ser tão fácil. Então qual é o verdadeiro “buraco”: falta de vontade política, falta de recursos, falta de pressão popular, falta de respeito do poder público pela população dos bairros periféricos... Ou, Barreiras é só para o agronegócio transitar pela BR que corta a cidade? Só transitamos pela BR? Parece que são outros os verdadeiros “buracos” que precisam ser estancados para que os buracos das ruas realmente venham a ser fechados. Fechar outros buracos, estancar outros veios de “água” que surgem não só nas ruas, nos buracos, é uma prioridade fundamental que só ocorrerá com mudança política, com mudança de “buraco”. Mas, afinal, de que “buraco” falamos. De vários, são tantos os buracos em Barreiras que às vezes até nos confundimos, não sabemos mais qual rua tomarmos, qual rua escolhemos para ver se temos a sorte de encontrarmos menos buracos. Por isso, temos que pensar realmente, qual o principal “buraco”, qual a verdadeira força da “chuva” ou do “sol” que está causando esses tantos outros buracos em Barreiras.
Por isso tudo e muito mais, em Barreiras a regra é escancarar para camuflar, é escancarar o problema para torná-lo natural, é escancarar para negar a solução, para torná-lo comum e como parte do dia-a-dia dos pobres, mas, por isso, como parte do dia-a-dia dos pobres esses mesmos buracos permitem ver outros buracos, mais profundos, e que precisam ser destampados, desenterrados, para que, vendo o verdadeiro tamanho do buraco, começamos a encontrar os meios para tapá-lo. E é em nós, eu, tu, ela, ele, vós e eles, seja da indignação às proposições, que as possibilidades precisam emergir. Como temos que colocar o pé na lama diariamente para passar pelos buracos de nossas ruas, teremos que por o pé na “lama” para fecharmos outros buracos, pois, em Barreiras, “o buraco é sempre mais embaixo!”.
Para se ter noção do descaso, com aquele velho empurra-empurra e do jeitinho brasileiro do poder público local, surgiu até nos bairros periféricos de Barreiras, a TV Buraco, uma versão bem humorada da crítica popular e do desabafo da população efetivamente abandonada dos bairros periféricos. Todos os dias moradores dos bairros Cascalheira e Vila Rica, por exemplo, sofrem com a “desgraça do buraco”, um povo que tem sua mobilidade limitada e precária com as chuvas que abrem e enchem de água e lama os buracos. Mas o problema “gigante” dos buracos das ruas é apenas a “ponta do iceberg”. É preciso ir além, muito além dos buracos. Em muitas ruas os problemas não são simplesmente os buracos, mas a falta de asfalto, rede de esgoto e, em alguns casos, água potável e energia elétrica. A universalização radical de serviços básicos tem tanto o papel de distribuição indireta de renda como, por outro lado, provocar a necessária diminuição do poder imobiliário privado (em articulação com o público) sobre o acesso e permanência à moradia, uma das questões centrais e que parece ser “esquecida” em meio aos buracos de Barreiras.
Mas é interessante perceber, que esse mesmo recém-chegado irá notar que se não desse uma volta pelos bairros periféricos, iria ver e produzir uma imagem de uma cidade pela conservada BR que corta Barreiras. É impressionante, como a principal rua da cidade sempre está mais ou menos arrumada para os fluxos de caminhões de soja, milho, algodão, de máquinas do agronegócio, de mercadorias do comércio, de carros e motos, de ônibus e pedestres. Entretanto, ao rodar pelas ruas ao lado dessa BR, a realidade emerge, vem a superfície com muito vigor e saúde, são os buracos que surgem pipocando na frente de carros, motos e pedestres, quase ganhando vida na cidade pois é fácil criarmos amizade com o buraco da rua tal de tanto que o já conhecemos, que já sofremos com ele, faça chuva ou faça sol. Conhecer Barreiras é, portanto, conhecer seus buracos. E, quantos buracos, trechos de ruas praticamente intransitáveis em que é inacreditável como os carros, motos e o “coitado” do pedestre conseguem passar, adaptando-se as condições precárias de trânsito, de mobilidade e de acessibilidade. Apenas quem tem uma caminhonete se dá bem, mas, como eu, como você, não temos uma S10 e muito menos uma Land Rover, a maioria se dá muito mal. A cidade, por esses buracos e muito outros, parece um queijo, toda furada, toda roída e corroída por ratos, e quantos ratos...
Se no período da construção de Brasília governar significava abrir estradas, em Barreiras governar parece ter como função principal abrir buracos. Mas, a função do governo municipal não era fechá-los? E que dificuldade em enxergarmos um simples (nada simples em Barreiras) tapa buracos. Enquanto as estruturas do carnaval começam a ser levantadas pelo mesmo poder público no centro da cidade, os buracos se avolumam, “se afundam”, ou afundam pela precariedade das vias cada vez o principal município do Oeste Baiano. Mas, como podem surgir na cidade “berço” do agronegócio mundial e das belezas naturais, tantos buracos? De onde vêm tantos buracos? Da chuva, do sol... E quantos buracos existem, já existem estimativas, ainda não facilmente comprovadas, que exista um buraco para cada habitante em Barreiras! Que belo argumento para a próxima campanha eleitoral, a campanha dos “tapa buracos”. Parece unânime, o problema são os buracos!
Mas, de onde vem o problema e de onde virá à solução é que os habitantes se perguntam. Aqueles moradores dos bairros periféricos onde transitar já não é mais um direito de ir e vir, mas, sim, um desafio constante, mais um desafio na vida dessas pessoas que lutam diariamente pela sobrevivência e que, agora, lutam, também, para conseguir sair de casa, para o simples deslocamento e acesso ao local de trabalho, seja pulando, seja se contorcendo, seja batendo o motor ou amortecedor do carro, seja colocando o pé na lama nos inúmeros, superficiais, profundos e intermináveis buracos.
Quantos, como eu, como você, já não pensaram, já não se cansaram de pensar, mas porque, porque os buracos em Barreiras não são arrumados, tampados, fechados, parece ser tão fácil. Então qual é o verdadeiro “buraco”: falta de vontade política, falta de recursos, falta de pressão popular, falta de respeito do poder público pela população dos bairros periféricos... Ou, Barreiras é só para o agronegócio transitar pela BR que corta a cidade? Só transitamos pela BR? Parece que são outros os verdadeiros “buracos” que precisam ser estancados para que os buracos das ruas realmente venham a ser fechados. Fechar outros buracos, estancar outros veios de “água” que surgem não só nas ruas, nos buracos, é uma prioridade fundamental que só ocorrerá com mudança política, com mudança de “buraco”. Mas, afinal, de que “buraco” falamos. De vários, são tantos os buracos em Barreiras que às vezes até nos confundimos, não sabemos mais qual rua tomarmos, qual rua escolhemos para ver se temos a sorte de encontrarmos menos buracos. Por isso, temos que pensar realmente, qual o principal “buraco”, qual a verdadeira força da “chuva” ou do “sol” que está causando esses tantos outros buracos em Barreiras.
Por isso tudo e muito mais, em Barreiras a regra é escancarar para camuflar, é escancarar o problema para torná-lo natural, é escancarar para negar a solução, para torná-lo comum e como parte do dia-a-dia dos pobres, mas, por isso, como parte do dia-a-dia dos pobres esses mesmos buracos permitem ver outros buracos, mais profundos, e que precisam ser destampados, desenterrados, para que, vendo o verdadeiro tamanho do buraco, começamos a encontrar os meios para tapá-lo. E é em nós, eu, tu, ela, ele, vós e eles, seja da indignação às proposições, que as possibilidades precisam emergir. Como temos que colocar o pé na lama diariamente para passar pelos buracos de nossas ruas, teremos que por o pé na “lama” para fecharmos outros buracos, pois, em Barreiras, “o buraco é sempre mais embaixo!”.
Por Marcos Mondardo
Morador de Barreiras, Geógrafo e professor do Curso de Geografia ICADS/UFBA
Morador de Barreiras, Geógrafo e professor do Curso de Geografia ICADS/UFBA
é buraco que não acaba mais e sem falar em alguns bairros em que estão abrindo buracos pra uma suposta "rede de esgoto", ate porque parece que o saneamento básico está virando tudo menos melhoria na nossa qualidade de vida.... fazer o que se estamos em "Barreiras"
ResponderExcluirCaro Prof. Marcos,
ResponderExcluirMuito interessante seu texto, no que ele tem de simbólico e concreto. Não sei se acontece com outros, mas comigo, depois que vim morar em Barreiras, asfalto virou quase um totem. Quando chego numa cidade e encontro a primeira rua asfaltada, sem buracos, sinto vontade de ajoelhar-me e beijar. Não há um pingo de ironia nisso. Uma das coisas que acho mais belas hoje em dia é asfalto. Agora, quanto à questão do contraste entre a BR 242 e a ruas da cidade, vejo aí mais um exemplo daquilo que já tratamos à exaustão no Blog. Quando se trata da esfera estadual e federal, as coisas não são como no âmbito municipal. Além das carretas que transportam os grãos do agronegócio, nós também nos beneficiamos da BR, pois viajamos nela. Já chamei a atenção para o contraste que há entre as duas entradas da cidade. Fiquemos com a saída para Brasília. Até o lugar que o quarto BEC cuida, aparece uma cidade que nem de longe lembra aquela que já nas imediações da rodoviária se revela com seu lixão, buracos e terra vermelha.
Márcio Lima
Marcos,
ResponderExcluirSe observarmos com maior atenção, perceberemos que realmente o "buraco é mais embaixo".
Peguemos nossa conta de energia elétrica e vejamos quanto pagamos mensalmente com taxa de iluminação pública. Por outro lado, pergunto-me se o serviço prestado não poderia ser melhor.
Observemos também o sistema de coleta de lixo, antes privado e de regular qualidade, hoje sucateado e incapaz de atender com frequência toda cidade.
Na saúde, poucos são os postos que possuem condições mínimas de funcionamento e atendimento.
Na educação, a prefeita se enrolou, concedeu aumento salarial sem planejamento orçamentário algum, e agora tenta barrar a correção anual. Vale ressaltar o visível estado de abandono dos prédios escolares, destruídos por falta de manutenção.
Mas, há outros gravíssimos problemas, tais como o peso da máquina administrativa e o preço exorbitante de diversos serviços prestados à prefeitura, o que garantem mordidas generosas nos recursos da municipalidade.
Ou seja, tens razão quando afirma que "teremos que por o pé na lama para fecharmos outros buracos". A UFBA terá que sair do campus e invadir a cidade!
Creio (quero crer), Marcos, que um dia administrar a coisa pública deixará de ter a “obrigatoriedade” de gerir popularidade, a qual objetiva unicamente a permanência no poder.
Parabéns pelo belo artigo.
Fernando Machado
zda.com.br
Ps: desculpe pelo tamanho do comentário.
São as veias abertas de Barreiras. Parece até que está leprosa, nossa cidade. É uma doença. Estamos doentes, a cidade está doente.
ResponderExcluirPenso que estes são os buracos do "tatu". É. São eles mesmo, os buracos do tatu-do errado por aqui. E a prefeita é um tatu. Tatu gosta de cemitério. Os buracos da cidade são de cemitério, são das covas em que o "tatu" quer jogar o povo ainda vivo. Mas, não cairemos, pois, os buracos ainda estão rasos, pisaremos no tatu enquanto ele aprofunda os buracos.
ResponderExcluirA solução para os buracos? Distribuir Land Rovers e S10s pra população! Nesse lugarzinho onde o absurdo é a regra, isso não é impossível. E assim essa cidade e seus paradoxos vão seguindo sua marcha (pra onde é que ninguém sabe)...
ResponderExcluirO duro caros leitores é que na primeira foramtura do Icads, pasmem_de Geografia os paraninfos quem são???
ResponderExcluir