sexta-feira, 9 de abril de 2010

“A Propósito da Mobilidade Urbana em Barreiras”, por Paulo Baqueiro (Professor da UFBA)

Neste momento, em que professores, estudantes e funcionários da UFBA estão impedidos de exercer suas atividades pela falta de condições adequadas de tráfego no caminho que dá acesso ao “Além Rio de Ondas”, a discussão que proponho agora parece oportuna, ainda que não trate diretamente do imbróglio da Prainha.

A Praça da Mobilidade, a ser construída em Barreiras, é vista como um marco da acessibilidade na “capital do Oeste”. Proposto pela prefeita Jusmari Oliveira ainda em campanha, o dito espaço público, localizado em Barreirinhas, na margem direita da BR-242 (sentido Luís Eduardo Magalhães), terá, segundo a municipalidade, toda a infraestrutura necessária para o acesso e usufruto de portadores de necessidades especiais, além de crianças e idosos, a parcela populacional usuária por excelência desse tipo de equipamento urbano.

Com a decisão de edificar a praça, parece evidente, ao menos à primeira vista, que a gestão pública municipal dá um passo decisivo no sentido de promover a inclusão daqueles que, por um motivo ou por outro, não podem conviver plenamente com os seus concidadãos. Mas uma simples caminhada pelas ruas da cidade revela que, mais do que a chegada de uma nova era de prevalência do respeito sobre a intolerância, essa praça, se construída, representará, na verdade, uma ironia dirigida aos barreirenses.

Tratar da mobilidade urbana é oferecer a todo cidadão as condições plenas de acesso a qualquer fragmento da cidade e não apenas a um determinado espaço, fartamente dotado da infraestrutura que deveria estar disponível em todas as esquinas, vias, calçadas e praças de Barreiras.

Não há como negar que, para qualquer barreirense, independente da condição física que possua, o deslocamento pela cidade é um exercício de paciência e uma atividade audaciosa. Calçadas e vias em péssimo estado de conservação garantem a aventura para quem precisa sair de casa para estudar, trabalhar ou passear.

As calçadas são irregulares na altura, na largura ou no tipo de piso utilizado, muitas delas construídas como verdadeiros monumentos à megalomania, ou seja, excessivamente altas. Além disso, a enorme quantidade de buracos e a inexistência de rampa de acesso na maioria dos cruzamentos completam o quadro de negligência da municipalidade em relação às calçadas.

As ruas e avenidas da cidade não apresentam condições mínimas de trafegabilidade. A cada temporada de chuvas, o asfalto, de péssima qualidade, se desmancha como se fora feito daquela famosa pastilha de antiácido efervescente. As demais vias, ainda sem cobertura asfáltica, têm sulcos provocados pelo escoamento das águas pluviais que mais parecem trincheiras da Primeira Guerra Mundial.

Outro tema que diz respeito à mobilidade urbana, mas que não recebe qualquer atenção da municipalidade é o da instalação de ciclovias e ciclofaixas, uma solução inteligente para o transporte público das cidades grandes e médias.

Pesquisa do Ministério dos Transportes dá conta de que 29% dos brasileiros utilizam a bicicleta como meio de locomoção, mas que a quantidade de quilômetros de ciclovias e ciclofaixas instalados nas cidades está aquém das necessidades desses cidadãos ciclistas.

Barreiras, cidade média, com transporte público deficiente e excelentes condições de uso para a bicicleta, não contempla projetos para instalação de vias exclusivas para ciclistas, ainda que já existam indícios de saturação da atual malha viária da cidade. Aliás, aproveito o ensejo para reivindicar que, quando a municipalidade resolver instalar um acesso digno ao Campus da Prainha, que o faça com uma ciclovia.

Razões não faltam, enfim, para que se chegue à conclusão do quão irônica é a construção de uma Praça da Mobilidade em uma cidade onde tal princípio é negado.

Por Paulo Baqueiro

2 comentários:

  1. Além de todos os problemas citados pelo prof. Paulo é digno de salientar que o espaço público – as calçadas – é usado como espaço privativo pelos donos de bares, restaurantes, oficinas, etc. e sem nenhum tipo de notificação pela fiscalização municipal.

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  2. O grande problema da administração de Barreiras é que não faz política: faz espetáculo. Esses espetáculos são pautados em alguns princípios, como o populismo, a maquiagem, o discurso demagógico, o uso de recursos para obras desnecessárias, a propaganda manipuladora, o uso de uma "persona" como íncone, ou melhor, como ídolo a ser adorado.
    É como estar na Roma antiga!

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