segunda-feira, 19 de abril de 2010

“Ainda universidade e política”, por Márcio Lima

Nos dias treze e quatorze de abril, um grupo de professores e alunos da UFBA compareceu à sessão na Câmara de Vereadores de Barreiras. A ação integrou as atividades de manifestação do movimento de paralisação da universidade, que reivindica condições seguras de trânsito até o prédio da Prainha. Embora caiba ao poder executivo municipal resolver o problema, o ato foi uma forma de ampliar a busca por uma solução. Além do mais, foi muito ilustrativo estar presente àquela casa. No primeiro dia, como parece ser hábito, a sessão iniciou com a leitura da Bíblia. Mas, por falta de expediente, não teve sobre o que deliberar. Ora, numa cidade como Barreiras, a câmara municipal fica um dia sem deliberação por falta de matéria. Inacreditável. Sem trabalho, os vereadores abriram espaço para que o aluno Israel e o professor Roberto Portela se manifestassem, expondo a situação em que se encontra a famigerada ponte da Prainha. Ao fim, houve um indicativo de que seriam convocados para a sessão do dia seguinte Carlão, o funcionário da prefeitura que tem respondido pelas obras o Secretário de Infraestrutura José Antônio Alves e o representante do CREA, que, era esperado, naquele mesmo dia emitiria um laudo ratificando o que todos já sabiam, isto é, a falta de condições de trafegabilidade da ponte.

Já na quarta, após a leitura da Bíblia e dos itens que comporiam o expediente do dia, foi informado que Carlão o Secretário de Infraestrutura sequer tinha sido convocado, pois o laudo do CREA não teria condições de chegar à sua mão em tempo hábil. Mais uma vez, foi concedida a palavra para o professor Roberto Portela, que leu, finalmente, o laudo. Àquela altura, na qual o conteúdo do documento já era de conhecimento prévio, o que o episódio revelava era a atuação do poder público diante do problema, numa clara demonstração de incompetência, descaso, falta de preparo para enfrentar uma crise como essa. Ora, se o professor teve acesso ao lado em tempo hábil até o início da sessão, por que Carlão o Secretário de Infraestrutura não tivera? Em vez de se esquivar de convocá-lo de antemão, a câmara não teria que pressioná-lo a estar ali? Mas logo a seguir ficou claro por que os vereadores tomaram essa decisão. Eles parecem estar ali não para representar os interesses da sociedade, mas para servir ao poder executivo.

Diante de professores e alunos que estão encabeçando um movimento de proporções talvez desconhecidas de Barreiras, o que fazem alguns vereadores da cidade? Começam a entoar um canto de louvor à prefeita. Pensaram eles que as pessoas envolvidas no movimento de paralisação que já dura mais de trinta dias seriam convencidas por um discurso laudatório como aquele? Obviamente que o despreparo para ocupar uma função como a que ocupam os deixou perdidos. Mas, além disso, os vereadores parecem não ter se dado conta da grandiosidade do problema e, por consequência, do movimento que ele ensejou. O posicionamento da câmara de vereadores talvez demonstre a relação entre sociedade e poderes públicos. Estes, omissos já há muito tempo e desacostumados a serem pressionados, não são capazes minimamente de encarar frente a frente os problemas que uma situação como essa desencadeia. Ainda que a câmara quisesse escudar o poder executivo, que o fizesse de outro modo, não como fez, como se um simples discurso vazio fosse minimamente aceitável para contornar a situação.

Porque não tinha sido ainda posta à prova, parece que a câmara de vereadores não se dera conta da gravidade do problema e, pari passu, da seriedade do movimento de paralisação. Ora, no início das manifestações, quando houve a passeata até a prefeitura e que culminou na ação truculenta (para dizer o mínimo) da polícia, aqui e ali se ouvia dizer: já pensou se todos os que estão com problemas vêm fazer manifestação na porta da prefeitura? Isso demonstra bem o tipo de relação que se estabeleceu entre o poder público e a sociedade, como se fosse esperado que cada qual cumprisse bem seu papel, cabendo ao primeiro omitir-se e à segunda calar-se (ao menos publicamente, pois reclamar, todos reclamam). Se o ato mesmo de reivindicação da UFBA – como temem alguns – fará com que isso mude doravante, ninguém sabe; mas, para fazer coro com a câmara de vereadores em pelo menos um ponto, vale lembrar um preceito bíblico: olho por olho, dente por dente

Por Márcio Lima

5 comentários:

  1. Acredito que toda essa cituação já passou do controles das pessoas a frente desse movimento, parece que tem muitos outros cabeças envolvidos além de professores e alunos.
    A UFBA já esta na cidade a muito tempo e ate então ninguem tinha se manifestado,(a manifestação é valida), mas não mal organizada como foi e nem como as coisas estão se desenrolando, não podemos por culpa apenas no poder executivo e legislativo, mas a UFBA tem sim sua parcela de culpa em todo esse caus, apartir do momento que saberiam aonde o Campus se instalaria, o obvio era pensar que o numero de pessoas e veiculos iriam aumentar muito, o ano passado quando a UFBA colocou alunos no outro campos sabia que iria ter esse problema, e então porque mesmo assim colocaram aulas no outro campos?!, pois no meu conhecimento de morador desta cidade a mais de 20 anos a ponte da prainha esta pra cair a mais de 10 anos,e UFBA quando estalou-se concerteza sabia, e ai volto a mesma pergunta, e sabendo disso porque, porque e porque ainda sim "mandaram" alunos pro outro campos??? parece realmente que há muitas outras cabeças por tras das "cabeças" desta paralização.
    E sobre o fato da policia ter sido tão bruta, vamos perguntar aos idosos, crianças, e todas as outras pessoas o que é ficar dentro de um ônibus 2 horas no sol lotado com o transito parado e como foi essa sensação? não se briga por interesse de uns essquecendo do interesse e da vida dos outros - algo que é muito importante para a vida de qualquer pessoa é O MEU DIREITO ACABA QUANDO O DO OUTRO COMEÇA! que jamais nos esqueçamos disso!!!!!!!!!

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  2. Ah, como é bom saber que mais e mais pessoas estão tomando consciência do quão incompetente e submissa é, e continua sendo essa Câmara.

    No entanto, é sempre lamentável a real constatação da passividade do povo barreirense, que acredito, há de sair dessa situação, tarefa dificil, mas possivel.

    Por fim, discordo de que os/as vereadores/as "parecem estar ali não para representar os interesses da sociedade, mas para servir ao poder executivo", porque não parece, de fato, estão!

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  3. Nós, para darmos palpite, temos que conhecer a fundo a situação. O 1° comentário nos diz que, porque mandaram os alunos para o outro campus? Sem conhecer a estrutura que é uma universidade Federal. Essa mesma universidade oferece cursos diversos, cursos esses que não poderiam ficar no prédio do Padre Vieira, pois, necessita de laboratórios e espaço. Então, como podemos dizer que seria melhor o outro prédio se nem ao menos eu conheço o funcionamento de uma universidade Federal? Antes de tudo vá procure se informar melhor quantos acadêmicos, quantos funcionários, quais os cursos e ai poderá procurar um lugar para a universidade. Não temos que ficar olhando para o passado e deixar 1200 acadêmicos sem aulas, sei que o problema já veio desde a implantação do campus, onde já deveria ter todo o aparato para recebê-lo . Sabemos que no centro da cidade seria impossível construí-la.

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  4. Que tosco esse primeiro comentário!
    Esse pessoal que nunca fez movimento na vida acha que tem cartilha de como fazer, só pode, porque sempre dizem que não é desse jeito! Cada movimento traça seu caminho e, infelizmente, não conheço maneira de chamar a atenção da população - passiva - sem que a mesma se prejudique. Faz parte do processo!

    E questionar a UFBA sobre as condições péssimas de acesso não é certo, porque isso não é responsabilidade da Universidade. A chegada da UFBA naquela comunidade abandonada, com uma ponte que pode cair a qualquer momento é super positivo, pois mexe com uma estrutura que existe há decádas e até a pouco tempo era aceita como natural.

    Resistência ao movimento e firmeza nas denuncias e ações!

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  5. Caríssimo(a) Sr(a). Anônimo (do comentário de abertura),
    Gostaria, em primeiro lugar, de me dirigir ao(à) Sr(a). lhe tratando pelo nome, mas, infelizmente, não teve a boa vontade de se posicionar de forma aberta.
    Me deixa indignado perceber a sua ignorância em relação aos fatos da vinda da UFBA para Barreiras, da implantação de infraestrutura de acesso ao Campus da Prainha, da organização do movimento da comunidade universitária e, por fim, da língua tão amada por Camões, Fernando Pessoa, Jorge Amado, entre outros.
    Talvez, se o Sr(a). resolvesse lutar pela justa causa da construção de um acesso digno até o Campus da Prainha, pudesse nos visitar e buscar informações pertinentes sobre todos estes temas que, infelizmene, parece não dominar muito bem.
    Acredite Sr(a)., uma universidade faz bem.

    Saudações,
    Paulo Baqueiro (professor da UFBA)

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