Desde o último domingo, a notícia de que uma criança de 2 anos foi hospitalizada com cerca de 50 agulhas no corpo, chamou a atenção da imprensa local, e em poucos dias, da imprensa nacional. A comoção é natural, devido a complexidade do fato. Mas o que me chamou a atenção foi a rapidez com que a imprensa brasileira concluiu que o caso se tratava de “magia negra”. William Bonner, âncora do Jornal Nacional da Rede Globo, ao vivo, enquanto falava com um repórter baiano por telefone, afirmou, sem nenhum cuidado ético, que os sinais do caso apontavam para “magia negra” apenas porque o repórter afirmava em primeira mão que o padrasto da criança, principal “acusado” do crime, afirmava ter contado com a ajuda de duas mulheres, sendo uma delas membro de “um seita religiosa local”.
Imagino a reação imediata de cada brasileiro (e não são poucos) que naquele momento estavam diante da televisão: “que horror”, “bando de macumbeiros”, “A gente devia era tocar fogo nesse terreiro aqui da rua”.
“Magia negra”! Essa expressão historicamente é usada para “exorcizar” todas as expressões, religiosas ou não, que se afastavam dos preceitos do pensamento cristão ocidental. Sob essa classificação, mulheres, cientistas, homossexuais, comunistas (lembrem-se de quantas criancinhas foram “comidas” por comunistas), foram queimados, perseguidos... silenciados. Quantos ainda hoje, são obrigados a esconder suas opções religiosas e políticas: ateus, comunistas, umbandistas, adeptos do candomblé, etc, todos “demonizados”.
Às vezes penso que de nada adianta o esforço de antropólogos e pesquisadores em geral em desconstruir essa relação entre “negro” e “mal”; “branco” e “bem”. O imaginário popular ainda é dominado por essas representações, especialmente quando tem o Jornal Nacional como instrumento de reprodução dessas idéias, de fortalecimento desses estereótipos.
Não estranhem se, durante toda essa semana, evangélicos em transe demonizem todas as religiões de matriz africana, ataquem terreiros de candomblé, ou imaginem nos seus “pesadelos” a tal “mãe de santo” envolvida no caso, e tenham certeza que nessa representação, esta mulher será negra, suja, pobre, mesmo que nenhuma foto dela tenha sido apresentada na televisão até o dia de hoje (17 de dezembro às 14hs).
Quero como cientista social problematizar os impactos desta notícia no nosso Oeste Baiano, tão marcado pela presença imigrante (e segregada) branco\sulista, e pela força do protestantismo neopentecostal, ainda que uma observação superficial de qualquer pesquisador perceba as reais origens da população autóctone, originária do vaqueiro, mestiço do índio e do negro, que de fato ocupou originalmente o interior do nordeste como bem nos mostrou Darcy Ribeiro em “O Povo Brasileiro” (1995).
Imagino a reação imediata de cada brasileiro (e não são poucos) que naquele momento estavam diante da televisão: “que horror”, “bando de macumbeiros”, “A gente devia era tocar fogo nesse terreiro aqui da rua”.
“Magia negra”! Essa expressão historicamente é usada para “exorcizar” todas as expressões, religiosas ou não, que se afastavam dos preceitos do pensamento cristão ocidental. Sob essa classificação, mulheres, cientistas, homossexuais, comunistas (lembrem-se de quantas criancinhas foram “comidas” por comunistas), foram queimados, perseguidos... silenciados. Quantos ainda hoje, são obrigados a esconder suas opções religiosas e políticas: ateus, comunistas, umbandistas, adeptos do candomblé, etc, todos “demonizados”.
Às vezes penso que de nada adianta o esforço de antropólogos e pesquisadores em geral em desconstruir essa relação entre “negro” e “mal”; “branco” e “bem”. O imaginário popular ainda é dominado por essas representações, especialmente quando tem o Jornal Nacional como instrumento de reprodução dessas idéias, de fortalecimento desses estereótipos.
Não estranhem se, durante toda essa semana, evangélicos em transe demonizem todas as religiões de matriz africana, ataquem terreiros de candomblé, ou imaginem nos seus “pesadelos” a tal “mãe de santo” envolvida no caso, e tenham certeza que nessa representação, esta mulher será negra, suja, pobre, mesmo que nenhuma foto dela tenha sido apresentada na televisão até o dia de hoje (17 de dezembro às 14hs).
Quero como cientista social problematizar os impactos desta notícia no nosso Oeste Baiano, tão marcado pela presença imigrante (e segregada) branco\sulista, e pela força do protestantismo neopentecostal, ainda que uma observação superficial de qualquer pesquisador perceba as reais origens da população autóctone, originária do vaqueiro, mestiço do índio e do negro, que de fato ocupou originalmente o interior do nordeste como bem nos mostrou Darcy Ribeiro em “O Povo Brasileiro” (1995).
Sandro Ferreira
Tão infame, quanto willian Bonner, no toconte a religião evangélica!
ResponderExcluirNão acredito em neutralidade. Costumo tomar PARTIDO diante das coisas. Não vejo nenhuma possibilidade de agradar gregos e troianos.
ResponderExcluir"O homem prefere a paz e até mesmo a morte à liberdade de discernir o bem e o mal. Não há nada de mais sedutor para o homem do que o livre-arbítrio, mas também nada de mais doloroso" (Dostoievski)
Ola Sandro.
ResponderExcluirSe você não acredita em neutralidade, como exige que o Willian Bonner a pratique?
T+
Não exigi que ele fosse neutro, apenas que não fosse preconceituoso, que procurasse emitir opiniões fundamentadas. Que tivesse cuidado ético ao classificar o ato como "magia negra".
ResponderExcluirVejam esta charge, ajuda a perceber o impacto dessas notícias entre nós pobres mortais.
http://kibeloco.com.br/kibeloco/2009/12/21/monstros/
Caro Sandro, é natural a velocidade quase que instantânea das noticias no mundo atual. Hoje mais do nunca participamos de um mundo em que o processo da informação se faz altamente competitivo e lucrativo. Estamos num mundo globalizado, onde a internet é o principal meio de informação.
ResponderExcluirComo vc mesmo disse, Willian Bonner, afirmou, através de conversa com repórter bahiano, que haviam SINAIS DE QUE O CASO APONTAVA para magia negra, visto a ligação de pessoas com seita religiosa local. O que foi comprovado posteriormente.
Hoje, é claro que vc sabe, a reportagem é investigativa, tem de ter comprovação o que faz com que as emissoras não sejam levianas.
Digo ainda que, independente da seita, religião, cor, sexo ou qualquer tipo de partido político ou social que se escolha, tal abuso (crime) com esta criança ou qualquer outra, é e será inconcebível, e a sociedade tem de reagir com austeridade.
Sabemos ainda que o termo “Magia negra” nos tempos atuais não tem nada a ver com o significado que vc deu a esta expressão. O significado histórico que vc ressaltou era usado na época da inquisição, não mais nos tempos atuais.
Concordo com vc quando diz que os meios de comunicação são tendenciosos, mas as relações discriminatórias se fazem constantes por toda parte da sociedade em maior ou menor escala. O que temos de fazer é dar meios à sociedade para adquirir conhecimento e cultura para que a mesma saiba discernir sobre os diversos assuntos veiculados pelos meios de comunicação.
Me causa espanto o fato de vc a meu ponto de vista achar que determinada classe religiosa seja cega (“ Evan.... em transe....., imaginem nos seus PESADELOS), a tal ponto de causarem danos incalculáveis a uma determinada mulher envolvida neste processo criminoso causado a esta criança. Tenho certeza que, se isto acontecesse, seria causado por pessoas ligados aos mais diversos grupos, não tendo um grupo especifico como foi colocado.
Graças a DEUS esta notícia não teve os impactos mesurados por vc. Que bom que vc não é vidente.
Lauro C. da Rocha.