O desfile das tribos de índios durante o carnaval, regido ao som agudo da gaita (uma espécie de flauta de metal), ritmado pela batida de tambores, triângulo, tudo isso compassado pelo estalo de um arco e flecha de madeira, faz parte de uma tradição de quase de 100 anos em João Pessoa/PB e é responsável até hoje pela afirmação da influência da cultura indígena na formação da identidade do povo nordestino, especialmente o da Paraíba.
E foi num desfile carnavalesco das tribos indígenas na década de 70 que um militar, um homem branco, gordo e alto, tenente músico do exército, notou algo interessante e surpreendente com uma componente da agremiação que era surda, muda e dançava o passo marcado acompanhando toda a tribo com sincronia de invejar campeã de nado sincronizado. Após a apresentação o tenente curioso e teimoso, em uma linguagem de sinais rudimentar, quis saber como a índia conseguia “escutar” a música. Com o dedo indicador, e um sorriso de surpresa, a índia apontou para a barriga e explicou para o tenente de onde vinha a sensação do som. Ali começava a saga de um dos maiores folcloristas do Brasil, que montou uma banda de surdos e mudos (isso mesmo!) com metodologia própria a partir de um trabalho voluntário de educação para deficientes, na época uma grande novidade que ganhou as manchetes dos jornais e revistas nacionais.
Resgato este exemplo para falar do tamanho do desafio que hoje nós da Universidade Federal da Bahia, enfrentamos para prover de educação pública de excelência aos muitos que nunca tiveram direito a uma educação pública de qualidade. É caso comum a origem humilde dos nossos estudantes que chegam trazendo na bagagem, além da saudade e o orgulho dos pais, a história de descaso com a educação pública fundamental e média e o desabafo da injustiça disfarçada de revolta. Revolta que em poucos instantes se transforma em um sorriso de vitória ao se darem conta que venceram e que conseguiram chegar à Universidade. A medida do sucesso do professor é do tamanho do sucesso do estudante. E a transformação dos estudantes alijados de boa parte de sua formação básica em profissionais disputados e lideranças é a sensação mais gratificante da vida de um professor.
Após 04 anos de Oeste da Bahia e da construção do Instituto de Ciências Ambientais e Desenvolvimento Sustentável da UFBA em Barreiras consigo entender que a teimosia e a curiosidade do Tenente Lucena, meu avô, é a fórmula que alimenta a nossa sensação de vitória que, por sua vez, é do tamanho do desafio que todos nós enfrentamos nestes 04 anos. Nesta curta história, fizemos história e travamos batalhas, literalmente, para desfazer a injustiça e o descaso público que persiste, para garantir o respeito ao bem mais precioso do ser humano, o conhecimento.
*Para conhecer e assistir um pouco das tribos indígenas do carnaval tradição da Paraíba acessem este link.
E foi num desfile carnavalesco das tribos indígenas na década de 70 que um militar, um homem branco, gordo e alto, tenente músico do exército, notou algo interessante e surpreendente com uma componente da agremiação que era surda, muda e dançava o passo marcado acompanhando toda a tribo com sincronia de invejar campeã de nado sincronizado. Após a apresentação o tenente curioso e teimoso, em uma linguagem de sinais rudimentar, quis saber como a índia conseguia “escutar” a música. Com o dedo indicador, e um sorriso de surpresa, a índia apontou para a barriga e explicou para o tenente de onde vinha a sensação do som. Ali começava a saga de um dos maiores folcloristas do Brasil, que montou uma banda de surdos e mudos (isso mesmo!) com metodologia própria a partir de um trabalho voluntário de educação para deficientes, na época uma grande novidade que ganhou as manchetes dos jornais e revistas nacionais.
Resgato este exemplo para falar do tamanho do desafio que hoje nós da Universidade Federal da Bahia, enfrentamos para prover de educação pública de excelência aos muitos que nunca tiveram direito a uma educação pública de qualidade. É caso comum a origem humilde dos nossos estudantes que chegam trazendo na bagagem, além da saudade e o orgulho dos pais, a história de descaso com a educação pública fundamental e média e o desabafo da injustiça disfarçada de revolta. Revolta que em poucos instantes se transforma em um sorriso de vitória ao se darem conta que venceram e que conseguiram chegar à Universidade. A medida do sucesso do professor é do tamanho do sucesso do estudante. E a transformação dos estudantes alijados de boa parte de sua formação básica em profissionais disputados e lideranças é a sensação mais gratificante da vida de um professor.
Após 04 anos de Oeste da Bahia e da construção do Instituto de Ciências Ambientais e Desenvolvimento Sustentável da UFBA em Barreiras consigo entender que a teimosia e a curiosidade do Tenente Lucena, meu avô, é a fórmula que alimenta a nossa sensação de vitória que, por sua vez, é do tamanho do desafio que todos nós enfrentamos nestes 04 anos. Nesta curta história, fizemos história e travamos batalhas, literalmente, para desfazer a injustiça e o descaso público que persiste, para garantir o respeito ao bem mais precioso do ser humano, o conhecimento.
*Para conhecer e assistir um pouco das tribos indígenas do carnaval tradição da Paraíba acessem este link.
Por Poty R. de Lucena
Ótima estreia no OesteMaquia, Poty. Parabéns e seja bem vindo.
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