quarta-feira, 1 de junho de 2011

"Território brasileiro entregue à dilapidação do capital", por Valney Dias Rigonato

Historicamente o território brasileiro foi explorado, usurpado e, por último, entregue aos interesses do capital globalizado. Há vários agentes agindo em nome desses interesses em nosso país. Esses agentes são: Estado-Nações, Grupos Financeiros, Multinacionais e as ONGs internacionais.

A política administrativa brasileira pouco valoriza as contribuições da ciência e da tecnologia. Há muito conhecimento produzido e desvalorizado pelo poder executivo e legislativo no território brasileiro. No entanto, ainda falta produção científica de ponta a respeito da biodiversidade brasileira. Resultado, inclusive da falta de investimento em pesquisas na educação brasileira básica e superior. Assim, entregamos as nossas potencialidades minerais, a água e a própria biodiversidade do território brasileiro para ser governado “pelos de fora” como já frisou o geógrafo Milton Santos.

Será que é falta de vontade política? Produção de conhecimento? Anemia política? Ou, interesses particulares inseridos nos ministérios, no congresso, no senado, nas assembléias legislativas estaduais e nas câmeras de vereadores? O que os impossibilitam de desenvolver políticas contra a correnteza do capital neoliberal? Com certeza, há uma confluência desses fatores. Afinal, vivemos num país que ignora o conhecimento científico já produzido e que abre concessões para explorar todas as nossas potencialidades territoriais.

Um típico exemplo é a reformulação do código florestal. Nas últimas semanas assistimos um teatro político no qual o que encontra na cena principal da comédia é o nosso meio ambiente. Vários atores representando os interesses de agentes específicos do capital. Por um lado, a banca ruralista faz esforços ímpares para isentar a responsabilidade de alguns proprietários de terras. Por outro, esquecem que o próprio agronegócio motivou várias ebulições no espaço urbano brasileiro e, mormente, crescimento desordenados e impactos ambientais urbanos. Tais impactos aparecem na nova proposta do código florestal enquanto apenas coadjuvantes da grande comédia: o futuro do meio ambiente brasileiro.

Esses atores são dirigidos pela mídia mundial em nome das potências mundiais as quais a tempo elegeram uma máxima: “Os brasileiros não têm competência para gerenciar a Amazônia, o Cerrado, a Mata Atlântica, a Caatinga e outros”. O geógrafo Aziz Ab’Saber em entrevista em 2005 afirmou: há um risco de entregar Amazônia às ONGs internacionais.

Desse modo, é preciso repensar rapidamente de que maneira o Brasil vai enfrentar as novas políticas globalizadas sobre o meio ambiente diante da pressão do capital internacional, do “aquecimento global” e das catástrofes naturais. Além da reforma do código ambiental há também novas concepções de biodiversidade (ALMEIDA, 2008), de natureza e novos interesses em nosso “bio-espaço”, Moreira (2010).

Diante dessa possível agregação de novos valores e concepções ao meio ambiente há várias indagações: a reforma do código florestal atende esses interesses? O Brasil ultrapassará o título de celeiro produtivo de grãos para o novo celeiro de seqüestro de Carbono?

Enfim, o território brasileiro precisa de outro modelo de gestão geopolítico. O Brasil precisa utilizar a ciência e a tecnologia para garantir o manejo integrado dos biomas brasileiros com geração de emprego e renda para sua população. Ou será, que iremos novamente aceitar o modelo de conservação e preservação dos países desenvolvidos? E, mais recentemente do terceiro setor e do chamado capital verde? Há inúmeras estratégias geopolíticas, ou melhor, do raciocínio espacial aplicado à gestão e planejamento político do território brasileiro para (re)constituir a sua autonomia e o controle do mesmo diante das demandas internacionais.

Em síntese, (re) pensar e buscar novas estratégias neste início de século XXI é uma tarefa e uma responsabilidade para a comunidade científica e para a população brasileira diante do ínfimo papel reservado por esse modelo. Contudo, é preciso romper com essa lógica colonialista de governar para entregar. O conhecimento científico e popular podem conquistar novos papéis na sociedade “técnico-científico-informacional”. Para isso, um dos papéis da população brasileira é denunciar e ao governo cabe repensar suas políticas, seu planejamento, sua gestão e seus projetos.

Oxalá, que as riquezas minerais, a biodiversidade e a população brasileira não seja dilapidados pelo capital.

por Valney Dias Rigonato
Professor do curso de Geografia ICADS/UFBA, Campus Barreiras-BA.

Um comentário:

  1. Prof. Valney,

    Parabéns pela seriedade como trataste do assunto, apresentando a verdadeira face do código florestal. De qualquer maneira perdemos em relação aos direitos individuais e aos direitos coletivos da nação.

    Prof. Dr. Eng. Civil Pedro C. S. Vieira - ICADS/UFBA

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