Essa questão da criação do estado do Rio São Francisco é extremamente complicada. As variantes são muitas, tantos interesses em jogo. E ela se torna ainda mais delicada porque contrasta com a complexidade da criação a simplicidade do desejo de todos, que é um só: que o Oeste deixe de integrar a Bahia. Fiquei surpreso quando, há poucos dias, peguei um exemplar do Jornal do São Francisco e li a notícia sobre o falecimento de Marlan Rocha. O que posso dizer sobre ele é que é o autor do projeto do estado do Rio São Francisco e criador da Fundação Geraldo Rocha. A título de esclarecimento, até onde sei, Marlan é o mentor do projeto, embora este tenha sido apresentado pelo deputado Gonzaga Patriota, pois só um representante eleito do povo tem poder para tanto. Meu contato com ele resumiu-se a uma conversa que tivemos numa tarde, no comitê de criação do novo estado. À época, recém-chegado a Barreiras, eu desenvolvia um pequeno projeto de pesquisa sobre a história da cidade. Por isso, acabei procurando-o. Na verdade, embora tenhamos conversado bastante, o assunto quase não girou em torno do projeto do novo Estado. Guardo daquela conversa as citações eruditas e condensadas que ele fazia e iam dando o tom da conversa – num bate-papo informal e à tarde só pode ser assim: Políbio, o grande historiador grego. Espinosa, o autor da Ética. E o convite que ele me fez para ouvir a Missa em si menor de Bach, em vinil. Marlan me presenteou e à Universidade com alguns exemplares do livro de Geraldo Rocha, Rio São Francisco, fator precípuo da existência do Brasil, que ele re-editou. Eu pedi que ele fosse à UFBA fazer uma palestra, apresentar a proposta de criação do novo estado. Infelizmente, nosso encontro resumiu-se àquela tarde. Por falta de conhecimento específico de historiador e de muitas outras questões, minha pesquisa formal não foi para frente. A palestra de Marlan também não aconteceu.
Recomendo a matéria sobre Marlan publicada na edição 64, ano IV, do jornal do São Francisco, escrita por Fernando Machado, que também tem uma página dedicada a Barreiras (www.zda.com.br). Lendo a matéria, só pude reforçar a idéia que tive quando do meu encontro com Marlan: o estado do Rio São Francisco, se se tornar uma realidade, provavelmente não será o lugar pelo qual ele lutou. Por isso, destaco um argumento importante escrito por Fernando Machado. Segundo ele, Marlan sempre foi independente politicamente, nunca se aliando aos donos do poder, numa região em que “não agradar ou criticar publicamente um político é motivo para todos os infortúnios, até o desaparecimento físico”. Daí a questão que fica é: o que Marlan achava da criação de um estado, cujo projeto de fato era seu, mas que seria governado e administrado por Deus sabe quem? O problema, portanto, da criação do estado do Rio São Francisco é saber o que ele é na verdade, a quem ele irá de fato beneficiar. Como disse antes, é contrastante essa questão da criação com a simplicidade do argumento que a motiva: a Bahia não olha por nós. Assim, a barafunda que dá sustentação ao projeto é facilmente soterrada pelo apoio de todos, que vêem no novo estado a oportunidade de finalmente emanar, da terra prometida, leite e mel. A impressão que tenho é que Marlan se sentia um continuador da tradição de homens que remonta ao início do século XX, e que fizeram a história de Barreiras e do Oeste, quando a opulência possivelmente não discrepava do caos social e urbano. No entanto, essa história a que ele talvez quisesse dar continuidade – ou antes, reatar o fio partido – já foi quase que completamente destruída, justamente por quem está à espera do novo ente da federação, o Rio São Francisco. Pobre santo, jamais o deixarão em paz.
Recomendo a matéria sobre Marlan publicada na edição 64, ano IV, do jornal do São Francisco, escrita por Fernando Machado, que também tem uma página dedicada a Barreiras (www.zda.com.br). Lendo a matéria, só pude reforçar a idéia que tive quando do meu encontro com Marlan: o estado do Rio São Francisco, se se tornar uma realidade, provavelmente não será o lugar pelo qual ele lutou. Por isso, destaco um argumento importante escrito por Fernando Machado. Segundo ele, Marlan sempre foi independente politicamente, nunca se aliando aos donos do poder, numa região em que “não agradar ou criticar publicamente um político é motivo para todos os infortúnios, até o desaparecimento físico”. Daí a questão que fica é: o que Marlan achava da criação de um estado, cujo projeto de fato era seu, mas que seria governado e administrado por Deus sabe quem? O problema, portanto, da criação do estado do Rio São Francisco é saber o que ele é na verdade, a quem ele irá de fato beneficiar. Como disse antes, é contrastante essa questão da criação com a simplicidade do argumento que a motiva: a Bahia não olha por nós. Assim, a barafunda que dá sustentação ao projeto é facilmente soterrada pelo apoio de todos, que vêem no novo estado a oportunidade de finalmente emanar, da terra prometida, leite e mel. A impressão que tenho é que Marlan se sentia um continuador da tradição de homens que remonta ao início do século XX, e que fizeram a história de Barreiras e do Oeste, quando a opulência possivelmente não discrepava do caos social e urbano. No entanto, essa história a que ele talvez quisesse dar continuidade – ou antes, reatar o fio partido – já foi quase que completamente destruída, justamente por quem está à espera do novo ente da federação, o Rio São Francisco. Pobre santo, jamais o deixarão em paz.
Por Márcio Lima